Europeus resistem à adoção do etanol

05/11/2008

Luiz Gonzaga Bertelli

O Brasil se coloca em situação privilegiada com a larga experiência acumulada em décadas para o intensivo uso da energia da biomassa.

Em 1974, às vésperas do início do Pró Álcool, a conta do petróleo correspondia à quase-metade do obtido com as nossas exportações.

Com o início da intensa produção alcooleira, é promovida a mistura crescente do etanol à gasolina automotiva e, a partir de 1980, os testes com os motores acionados exclusivamente com o derivado da cana.

Graças à biomassa canavieira, a fatia da energia renovável na composição de balanço energético brasileiro supera, atualmente, 45%.

A indústria do etanol paulista é, hoje, o principal pólo do plantio e industrialização de cana-de-açúcar no universo e determina a melhor base científica e tecnologia de todo o mundo. As macrorregiões, que mais contribuem para o desenvolvimento da cultura canavieira no estado bandeirante, são Ribeirão Preto, com 41%, Bauru, com 16%, e a macrorregião de Piracicaba, com 14%.

O consumo médio do álcool, no 1º semestre deste ano, foi superior a 15% do uso da gasolina.

As razões do maior consumo do combustível renovável foram o aumento da renda familiar, os preços do etanol mais baixos do que os da gasolina e o exponencial crescimento do carro flex.

Não obstante, os europeus resistem à ampla adoção do etanol brasileiro, principalmente devido à polêmica instaurada dos possíveis reflexos da produção dos biocombustíveis nos preços dos alimentos. A exceção é a Suécia, que emprega, largamente, o etanol, inclusive nos ônibus. Hoje, o país escandinavo é o segundo maior importador do etanol brasileiro, ficando atrás da Holanda. A entrada do etanol na Europa é efetuada pelo porto de Rotterdã, na Holanda.

A conceituada empresa Scania investiu pesadamente durante as últimas décadas e conseguiu algo que parecia impossível: fazer um motor do ciclo diesel funcionar com etanol. O emprego do etanol seria mais vantajoso ainda para os usuários das cidades brasileiras, pois, conforme a Cetesb, os seus índices de poluição são muito menores. Conforme o estudo da Faculdade de Medicina da USP, o enxofre do diesel brasileiro é altamente cancerígeno e é responsável pela morte de 3 mil pessoas por ano, na capital paulista, devido à poluição do ar.

Na grande nação americana, o Senado discute a possibilidade de redução dos subsídios proporcionados ao etanol do milho para US$ 0,45 por galão. Atualmente, a cobrança é de US$ 0,51.

Para o Legislativo dos EUA, os sucessivos recordes dos preços do petróleo seriam a justificativa para a adoção dessa medida, além das limitações na produção do etanol doméstico, fabricado com o milho.

A produção mundial do etanol, em 2008/2009, deverá ser superior a 77 bilhões de litros, podendo alcançar 127 bilhões, em 2017, conforme a FAO e a OECD. Em consonância com o mesmo relatório, o Brasil liderará a exportação mundial do etanol, com um volume em torno de 9 bilhões de litros, quase três vezes mais que a quantidade enviada para o exterior este ano. Ao lado de uma colheita recorde de cana, em 2008/2009, o Brasil irá superar as metas de produção de alimentos.

À semelhança do que ocorre entre nós, os americanos não estão realinhando os preços dos combustíveis derivados do petróleo diante dos altos valores do preço do petróleo, principalmente da gasolina automotiva. Quando isto acontecer, melhorará significativamente a competitividade do etanol brasileiro, considerado, nos dias atuais, o combustível líquido mais barato e limpo em todo o mundo.

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Fonte: DCI -