Indústrias adiam início do processamento de laranja

13/05/2009

Fernanda Manécolo

Grandes processadoras ainda estão em manutenção; renovação de contratos com citricultores estão atrasados.

As grandes indústrias de suco de laranja ainda não iniciaram o processamento da safra 2009/2010, o que anualmente acontece em maio. As empresas ainda estão em manutenção, segundo relatório do Centro de Estudos e Pesquisa de Economia Agrícola (Cepea) divulgado ontem. Em informe divulgado na semana passada, o Centro apontava que 74% dos produtores, de uma amostra de 50 do Estado, ainda não haviam fechado contratos para a safra deste ano. A situação envolve as quatro gigantes do setor - Cutrale, LDC, Citrovita e Citrosuco.

O atraso no processo preocupa muitos citricultores que já estão com uma quantidade razoável de fruta madura nos pomares, mas que ainda não conseguiram comercializar a produção. 

Flavio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), explica que, apesar da estiagem do ano passado ter atrasado a florada, parte da variedade precoce está pronta para ser colhida e as indústrias ainda não sinalizaram a compra. Além disso, mais da metade dos contratos para esta safra ainda não foi renovada. “Alguns citricultores ainda nem sabem por quanto vão vender a laranja neste ano”, completa.

Ainda segundo Viegas, os contratos que foram renovados ficaram em torno de US$ 2,90 a US$ 4,50, a caixa de 40,8 quilos de laranja. “O valor está muito abaixo do custo de produção, que hoje está em torno de US$ 9 a caixa”, compara. Mesmo no caso do mercado spot, ou seja, a comercialização realizada na porta da fábrica sem contrato, o preço está abaixo do esperado pelos produtos. “O mercado spot está pagando menos de R$ 5 (US$ 2,50)”, diz ele.

O presidente da Associação dos Citricultores prevê um ano difícil para o setor, diante do atraso nas renegociações dos contratos com os citricultores e também na compra da fruta pela indústria. “Se no começo da safra já estamos tendo este problema, a tendência é de piora”, estima.

Outro ponto levantado por Viegas é que as indústrias, ano a ano, têm aumentado seus pomares próprios, e isso permite a elas retardar o fechamento de contratos com os produtores. “Enquanto o preço do suco fora do País não melhora, elas podem atrasar os acordos, porque têm fruta suficiente para começar a produção.”
Ainda de acordo com o Cepea, as fábricas só finalizaram a moagem da temporada 2008/2009 na semana passada e a colheita da nova safra paulista segue lenta. Em maio, a oferta de laranja precoce pode ainda não ser suficiente para que todas as indústrias acionem suas linhas de produção, mas os citricultores já apresentam frutas prontas para consumo e para o processamento. “A principal explicação para o baixo interesse das indústrias é a incerteza quanto à demanda internacional. Os produtores estão preocupados, esperando uma posição da indústria para negociar”, analisa Mayra Monteiro Viana, analista de mercado do Cepea.

Citricultores estimam perda de 20% da safra


A safra de laranja ocorre normalmente de maio a janeiro. De maio a junho, é o período principal de colheita; nos meses seguintes acontecem a moagem. Porém, as mudanças climáticas (chuvas fortes, seguidas de seca) fizeram com que as primeiras floradas para a safra de 2009 acontecessem tardiamente, em dezembro. Por isso, a colheita da atual safra deve ganhar força de junho e julho.

Além dos problemas climáticos, a Associtrus reclama que os preços baixos pagos pela caixa nos últimos anos levaram os citricultores a diminuírem os tratos culturais, ou seja, doenças como a greening e o amarelinho também influenciarão na quebra da safra deste ano em pelo menos 20%. No ano passado, as indústrias estimaram uma produção de 305 milhões de caixas de 40,8 quilos. Os números ainda não foram fechados oficialmente.

Fonte: Tribuna Impressa - Araraquara