Opinião de um citricultor

06/08/2009

5/8/2009

 

Caro Dr. Viegas,

 

Quero lhe dar os parabéns pela iniciativa de tentar levar os citricultores a Brasília para que representassem maciçamente os pequenos e médios citricultores que estão sendo, na minha modesta opinião, exterminados!

  

Eles se sentem desalentados, desinformados, desorientados, desesperados, incrédulos na possibilidade de que alguém olhará por eles e defender o que julgam ser seus legítimos direitos: sobreviver, prosperar, educar e encaminhar seus filhos com dignidade, como sempre foi, uma vez que o progresso e prosperidade das indústrias sempre foi suportada por eles, que ACREDITARAM.

 

Hoje se sentem alijados do progresso e sucesso que ajudaram a construir!

 

A LARANJA É UM EXCELENTE NEGÓCIO. SE NÃO FOSSE, AS INDÚSTRIAS NÃO TERIAM VERTICALIZADO SUA PRODUÇÃO DE FRUTAS E IMPLANTAÇÃO DE POMARES PRÓPRIOS, CAMINHANDO PARA FICAREM AS ÚNICAS DONAS DO NEGÓCIO.

 

Quando tentam justificar os baixos preços pagos pela caixa de laranja, referem-se apenas ao suco concentrado e congelado. Nunca se referem ao suco fresco, ou aos subprodutos como D’Lemonene, óleos essenciais, polpa para ração, e outros que nós produtores não temos noção de quantos são e quanto valem porque a caixa preta não é aberta!

 

Mas são oriundos de nossa produção.

 

E NADA DISSO NOS É PAGO!

 

Somente o suco concentrado e congelado que sabemos estar sendo substituído por outras formas de SUCO DE LARANJA!

 

OK! TUDO ISSO O SR. JÁ SABE!!! DE MUITO TEMPO!!!

 

Porem lhe pergunto: será que adianta irmos atrás de solução em Brasília?

 

Será que adianta falar somente com o senador Suplicy? Será que ele sozinho apresentaria alguma proposta para regulamentação do setor? Onde estão os demais senadores da dita “Bancada Ruralista”?Estão eles cientes da real situação da citricultura? O que pensam a respeito?

 

Eu acho que a solução para o problema que vivemos na citricultura  deveria contar com o empenho e participação do Governador do Estado que é o maior produtor de LARANJA DO MUNDO, e que no momento é o Sr. José Serra!

 

Temos que expor a situação a ele!

 

TEMOS QUE CHEGAR A ELE!

 

O Sr. José Serra não é governador permanente do Estado de S. Paulo. Ele está GOVERNADOR. E deixará um legado para seu sucessor, e sucessores.

 

Será que ele gostaria de deixar como legado a provável expulsão dos pequenos citricultores da atividade?

 

Será que ele está adequadamente informado sobre o que se passa com os pequenos e médios produtores na citricultura?

 

O que será que ele pensa a respeito do assunto?

 

Sinceramente, não me lembro de ouvir nenhum pronunciamento dele sobre a crise dos pequenos e médios citricultores.

 

Em minha opinião, o secretário da Agricultura do Estado de S. Paulo não parece estar preocupado com o que ocorre na citricultura! Não percebo por parte dele o empenho que julgo necessário para que se supere a crise que se instalou nessa área.

 

Pergunto: Ele estava junto com os citricultores em Brasília?

 

E os deputados Federais por São Paulo, conhecem o problema e se manifestam?

Quantos acompanhavam os citricultores em Brasília?

Foram convidados a comparecer na manifestação?

  

Eu acho que deveríamos sensibilizar para nossa causa a mídia que os parlamentares, governadores e ministros lêem e que são, na minha modesta opinião:

 

REVISTA VEJA,

REVISTA ÉPOCA,

JORNAL O ESTADO DE S.PAULO,

FOLHA DE SÃO PAULO,

E O JORNAL NACIONAL, DA GLOBO!

 

De nada adianta nos pronunciarmos somente no site da ASSOCITRUS ou em Canais de TV dedicados a agricultores, como temos feito!

 

Acho que nenhuma autoridade, deputados ou senadores, ou muito pouco deles, aparentemente, os assiste, ou ao menos os lêem!

 

Os estrangeiros o fazem.

Veja que a Foodnews, conforme publicado no site da Associtrus, divulgou a manifestação dos citricultores em Brasília. Na imprensa Nacional, se o fizeram, não vi!

 

Pergunto, como se posiciona e o que faz para superar a crise o deputado Mendes Thame, pois que se apresentou, em palestra que assisti dele, como defensor do setor sucroalcooleiro, da citricultura e da agricultura de forma geral?

 

E os demais deputados das regiões citrícolas de S. Paulo : Roberto Massafera, Dimas Ramalho, Geraldo Vignoli, etc. estavam presentes?Foram convidados?

 

E OS PREFEITOS DAS CIDADES QUE MAIS SENTIRIAM O IMPACTO DA CRISE PELA QUAL PASSAMOS, ONDE ESTAVAM? MANIFESTARAM-SE? FORAM CONVIDADOS? MANDARAM REPRESENTANTES?

 

Como se posiciona a senadora Kátia Abreu, presidenta da CNA, entidade que nos cobra caríssimos impostos sindicais?

 

Caso as autoridades governamentais julgarem que o plantio de laranja deve ficar restrito às Indústrias, que ao menos nos informem. Mas, urge uma definição.

 

Porem esteja certo, Dr Flávio Viegas, que as pequenas propriedades rurais, propícias ao cultivo de laranja e que possibilitaram, durante décadas, a vida digna do pequeno citricultor, se tornarão inviáveis para a agricultura por falta de alternativas e de capital dos produtores para mudar de ramo. E Muito provavelmente não se prestarão, em futuro próximo, nem para o cultivo da cana, pois que com a mecanização da colheita será exigida a implantação de canaviais em áreas maiores.

 

E aí o que será dos pequenos citricultores?

 

Será que pretendem utilizar nossas pequenas propriedades para reforma agrária devido a desocupação das mesmas pela demissão de nossos empregados rurais?

 

A sensação que tenho sobre o Secretário da Agricultura do estado de São Paulo,  é que ele pouco nos ajuda, apesar da esperança e confiança que depositávamos nele quando assumiu a Secretaria. É preciso que ele se sensibilize e se manifeste!

Foi preocupante, e assustador, ter lido  no artigo publicado aos 03/08/2009 no site da Associtrus “ Crise afeta pomares e frutas apodrecem no pé”  a opinião do mesmo afirmando que ..” Os produtores devem se mobilizar para vender o suco processado no mercado interno..”

 

E O greening?

 

É justo o produtor ter que arcar com tudo sozinho, perdendo patrimônio, receita, pomares, e tendo custos e multas adicionais por problemas que não causou?

 

Mais um alerta ao Governador!

 

De nada adianta reformar vicinais se safras não vão fluir, pelo menos de laranja dos pequenos citricultores caso ações severas e rápidas  não forem tomadas.

 

O tempo Urge!

 

FAÇO UM APÊLO: É NECESSÁRIO QUE A ASSOCITRUS CHEGUE ATÉ O GOVERNADOR JOSÉ SERRA, E PEÇA A ÊLE QUE SE MANIFESTE!

 

Pois Está governador de todos os paulistas, e não apenas dos paulistanos!

 

Sei que faz bom trabalho pela cidade de SÃO PAULO, porém é responsável, ou ao menos, está responsável por um Estado que necessita de ação urgente!

 

MAIS UM PROBLEMA PARA AS PREFEITURAS, E GOVERNOS EM QUAISQUER NÍVEIS:

 

Está sendo desenvolvida colheitadeira mecânica de laranja.

 

Uma empresa desenvolveu modelo que parece promissor.

 

Se isso se viabilizar, colhedores de laranja estarão fora da atividade, pois que só seriam necessários em pequenos pomares nos quais as colheitadeiras mecânicas não seriam viáveis.

 

Aí está mais uma das razões do desmonte dos pequenos produtores!

 

VOLTO A DIZER : PRECISAMOS DE UMA DEFINIÇÃO DE GOVERNO, ESTADUAL E FEDERAL. NEM QUE SEJA PARA ESTABELECER QUE A ATIVIDADE DA CITRICULTURA FICARÁ RESTRITA À INDUSTRIA.

 

Assim, pelo menos, poderemos erradicar nossos pomares sem remorsos e não teremos mais que ficar investindo neles na esperança de dias melhores.

 

Mas isso tem que ser rápido pois em agosto já seria  feita a 1ª adubação!

 

Fiquei estarrecido ao saber em sua entrevista que o Sr. Não foi convidado para a cerimônia do dia do citricultor em Cordeirópolis na qual o Secretário da Agricultura estava presente.

Porque não foi convidado?

Este fato reforça minha opinião acima de que o mesmo não parece estar empenhado, ou ao menos sensibilizado com a crise dos pequenos citricultores.

 

Quem e porque não aceitou a tese do preço mínimo para a caixa de laranja?

Qual a especificidade (mais uma novidade, agora!) da cultura que impossibilitaria a política de preço mínimo da laranja.

 

“ESPECIFICIDADE!!..” Tudo tem sua especificidade.

A especificidade da produção leiteira é diferente daquela da produção da soja, que é diferente do café, que é do milho.

 

Dr. Viegas, não nos iludamos com a idéia que fazer propaganda para buscarmos o aumento do consumo doméstico de suco de laranja seja uma solução para viabilizar a citricultura para o pequeno produtor.

 

Não é! Isso não adianta nada, pois se o mercado interno fosse promissor a indústria já teria ocupado mais espaço do que já tomou.

 

Todos os sucos vendidos em embalagem “Longa Vida”, que conheço, são feitos com suco de laranja concentrado. O mercado interno já está ocupado pelas Industrias .

 

Os produtores montarem uma processadora, industria de suco, também não me parece ser uma alternativa segura, pois o sistema logístico principal – o transporte marítimo em navios apropriados- é das indústrias, e só se exportaria suco  em navios locados por elas se permitissem.

Continuaríamos na mão delas, seja para termos navios de transporte, seja pelos preços do frete que nos seria cobrado.

 

O produtor tem que ter o direito de fazer o que sabe: produzir laranja e ser adequadamente remunerado por isso, e com a garantia de que vai vender sua safra!

 

E para que isso seja possível, no caso da citricultura, é imprescindível a regulamentação do setor.

 

Sugiro : 

a) Limitar o volume de laranjas de produção própria ou arrendada das indústrias em cerca de 20 % da laranja que processam,

 

b) Limitar a expansão dos pomares das indústrias ,

 

c) Priorizar a colheita do pequeno citricultor, colhe-se em primeiro lugar a safra do pequeno produtor, depois do médio, do grande, e por último o da indústria,

 

d) Estabelecer que em financiamento de custeio para a citricultura, o empréstimo possa ser pago em caixas de laranja ao preço mínimo definido pelo governo, caso o produtor não consiga vender sua safra, seja pelo fato da Industria querer pagar preços menores do que o mínimo estabelecido pelo governo, seja pelo fato de não ter contrato. O Banco negociaria  com a industria preços e colheita da laranja que passaria a lhe pertencer.

 

e) Colheita e frete devem ser de responsabilidade e feitos pela Indústria.

  

Tenho uma dúvida a respeito de “Dumping”:

Se a laranja é matéria prima do suco e é paga em valores inferiores ao seu custo de produção, como vem ocorrendo há tempo, isso não caracteriza “dumping” no preço do Suco, Dr. Viegas? 

 

Nas minhas sugestões sobre as ações que deveriam constar da regulamentação da atividade da citricultura, deixei de colocar a mais importante porque a julguei implícita:

 

Deve ser estabelecido pelo governo o preço mínimo a ser pago pela  caixa de laranja, a ser definido pela Conab, com aval do CEPEA!

 

Ouso dizer que a Indústria justificará perante o Governo, se for instada a fazê-lo, que expandiu seus pomares devido ao fato que os produtores não estão controlando adequadamente o “Greening”, e para evitar a falta de matéria prima decidiram ampliar sua produção própria!

 

A mim parece que essa trama, de se consolidar como únicos produtores de laranja, foi uma trama urdida há alguns anos atrás, quando resolveram pagar preços insuficientes pela nossa produção. Deixando os produtores na expectativa de dias melhores e consumindo suas reservas financeiras. Se é que existiam.

 

Atualmente, os produtores tradicionais, pequenos e médios, realmente não têm condições de cuidar adequadamente de seus pomares, controlarem o Greening, e nem mais de reformar seus pomares. Estão totalmente descapitalizados!

 

O circulo fechou! Fomos afogados! A trama maldosa, para dizer o mínimo, deu resultado! Estratégia Brilhante!

 

Mas porque isso se antes tinha espaço para todos conviverem bem?!

Cada um com sua atividade e objeto fim?!

 

Ganância???!! De quem???!!! Insegurança???!!! De quem???!!!

 

Grande abraço,