Cafeicultor vê ajuda federal desta semana como paliativa

10/09/2009

Priscila Machado

 

SÃO PAULO - Antes mesmo de ser autorizado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o pacote de ajuda à cafeicultura anunciado pelo governo é considerado medida apenas paliativa pelos produtores. Além da cotação do grão no mercado interno continuar abaixo do preço mínimo definido pelo governo, exportadores já registram queda de 5% na receita cambial no acumulado do ano.

Nesta semana, o Ministério da Agricultura deverá propor oito medidas para a cafeicultura para serem avaliadas durante reunião extraordinária do CMN. O pacote deverá somar R$ 1,7 bilhão para o setor. Entre as principais propostas está a aquisição de 7 milhões de sacas de café pelo preço mínimo de R$ 261,69 e a criação de duas linhas de crédito no valor de R$ 100 milhões cada. Uma delas seria voltada para cooperativas de crédito renegociarem dívidas e a outra para renegociar prazo para pagamento das Cédulas de Produto Rural (CPRs).

O Conselho Nacional do Café (CNC) entende que as medidas trarão alívio momentâneo ao cafeicultor. Contudo, destaca que são ações paliativas e, portanto, insuficientes para sanar o crônico endividamento e a falta de renda da atividade cafeeira como um todo. Entre outros motivos, Gilson Ximenes, presidente do CNC, destaca o reescalonamento das linhas de Custeio e Colheita - que vencem entre setembro de 2009 e março de 2010 -, por quatro anos, considerado muito pouco e o valor de R$ 261,69 para compra ou conversão de dívida financeira. "É muito baixo, ficando completamente aquém da realidade dos custos de produção", avalia.

Para Ximenes, ainda há a necessidade de um ano de carência para o pagamento dos financiamentos, especialmente os atrelados aos Recursos Obrigatórios (RO) e Recursos Livres (RL) do crédito rural, tendo em vista que o produtor está descapitalizado e, com a colheita caminhando ao final, "temos ciência que muitos produtores venderam boa parte dessa safra a preços abaixo dos custos, ficando sem condições para honrar os compromissos atuais", afirmou.

A aquisição das sete milhões de sacas pode ter sobre o mercado o efeito que era esperado dos leilões de compra anunciados pelo governo. Faltando apenas dois meses para a realização do primeiro leilão os preços praticados no mercado ainda estão cerca de 20% abaixo do valor oferecido pelo governo R$ 303 a saca, enquanto no mercado o patamar é próximo de R$ 250 a saca. Vale destacar que durante todo o ano de 2009 o preço do café não alcançou nenhuma vez o patamar de R$ 303 a saca, sendo o valor R$ 283 a saca, negociado no dia 28 de janeiro, a maior cotação do ano.

Para Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, tudo indica que o mercado não deverá se recuperar até o primeiro leilão, marcado para o mês de novembro, e o produtor deverá exercer a opção. Isso porque o mês de setembro é época de florada no Brasil e se ela for boa, sinalizando uma safra grande, terá efeito negativo sobre os preços. "Além disso, um dos fatores que ajudam no preço do café é carência de grãos de qualidade, mas a oferta desses deve aumentar já que em outubro começa a entrar no mercado o café da Colômbia", destaca Barabach.

No mês de agosto, as exportações brasileiras de café alcançaram um total de 2,4 milhões de sacas, para uma receita de US$ 342 milhões, segundo levantamento divulgado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). O número superar em 9,4% o volume exportado no mesmo mês no ano passado, no entanto, a receita teve uma queda de 4,9%, de US$ 359,6 milhões para US$ 342 milhões.

Robusta

Os preços internacionais dessa variedade podem voltar a subir, impulsionados pela previsão de queda de 10% a 15% da safra 2009/2010 do Vietnã. A estimativa é da Associação Vietnamita de Café e Cacau. O país asiático é o segundo maior produtor mundial de café depois do Brasil.

De acordo com dados do Cecafé, o volume de café robusta exportado pelo Brasil teve uma redução de 40% nos primeiros oito meses deste ano, de 1,2 milhão de sacas para 778,6 mil. Se for levado em conta apenas julho e agosto, os dois primeiros meses da safra 2009/2010, a queda nos embarques chega a 54%

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