Carta aberta ao PENSA

06/07/2007
A Associtrus considera que a indústria esmagadora de laranja está usando de maneira irresponsável e maliciosa os dados de investimento e custo de produção de um pomar citrícola publicados em Caminhos para a Citricultura, da Editora Atlas. O estudo tenta demonstrar que cerca de 20 a 25% dos pomares, provavelmente os pomares da indústria, que foram implantados com o dinheiro dos citricultores excluídos, têm a chamada “tecnologia ouro” e teriam os custos que a indústria tem divulgado. Há sérias dúvidas em relação aos números, uma vez que esses pomares são de implantação recente e seu histórico não permite uma boa avaliação de seu custo real. As doenças que vêm surgindo nas últimas décadas têm imposto custos e riscos não adequadamente avaliados e contabilizados nas planilhas de custo. Além dos gastos adicionais na implantação dos pomares, as doenças têm exigido replantios precoces de pomares e, em muitos casos, mesmo antes do início de produção, há perda de árvores e seu conseqüente replantio, a taxas que superam 1% ao ano. A vida útil dos pomares decresceu significativamente e aumentou o custo através de uma depreciação mais acelerada. Muitos produtores que são usados como exemplo de produtividade não contabilizam os plantios fracassados. Fazer análise de custo e dar depoimentos sem considerar que as doenças e pragas fazem parte da realidade econômica da citricultura e não têm caráter transitório e sim endêmico é uma atitude no mínimo leviana, pois induz ao erro o empresário que se baseia nas informações de instituições renomadas para implantação de seus projetos. Nem a indústria, proprietária dos pomares, é fonte confiável para levantamento de custos de produção de laranjas, dado seu interesse em comprar a laranja ao menor preço. Para dar credibilidade ao trabalho do PENSA, seria necessário que alguns pontos fossem esclarecidos: 1. Qual a produtividade e custo econômico médio de produção de laranjas no estado de S. Paulo? Por que os custos da CONAB, do IEA, da FNP e até as informações da FAESP indicam custos tão maiores que os custos do PENSA? 2. Qual a área, número de pés, produtividade média ao longo da vida útil e a idade média dos pomares que adotam a “tecnologia ouro”? 3. Quantas vezes, nos últimos 15 anos, estas áreas, com “tecnologia ouro” foram replantadas? 4. Qual o vínculo entre os proprietários dos pomares de altíssima produção e a indústria esmagadora? 5. Qual o percentual de pomares irrigados em S. Paulo? Qual a área de citros que poderia ser irrigada? 6. Por que mais de 20 mil produtores foram excluídos do setor? Eram todos incompetentes? O preço praticado pela indústria, nos últimos 15 anos, permitia manter os pomares e renová-los? Lamentavelmente o trabalho em discussão foi elaborado por técnicos competentes, porém sem nenhuma vivência na produção e comercialização de citros; acreditamos que as falhas apontadas devem ser creditadas às fontes de informação. Isto, no entanto, não exime o PENSA da responsabilidade de aceitar que suas informações sejam usadas para prejudicar os citricultores que lutam para sobreviver num mercado manipulado por quatro empresas, sobre as quais pesa uma série de denúncias de fraudes, cartelização e outras ilegalidades. Gostaríamos de convocá-los a justificarem as discrepâncias entre esse estudo e a planilha da Associtrus; dessa forma talvez possamos encontrar os reais caminhos para a citricultura. Associtrus