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A revanche da agricultura

20/03/2009

27/4/2008

Fr?d?ric Lema?tre

Durante s?culos, ela foi o objeto de todas as aten?es. Ent?o, atra?do pelas luzes da cidade, o homem come?ou a ignor?-la. At? que no s?culo 20, a agricultura acabou sendo marginalizada de vez, e o agricultor, desprezado. Foram tantos os sinais desta decad?ncia que eles acabaram se tornando incont?veis. Por mais que a Fran?a celebre at? hoje as d?divas do seu "terroir" (conjunto das terras cultivadas em determinada regi?o e as suas virtudes, consideradas do ponto de vista agr?cola), neste pa?s a express?o "campon?s" acabou se transformando num insulto. Talvez n?o seja totalmente por acaso se foi no Sal?o da Agricultura que Nicolas Sarkozy, emblem?tico como poucos do homem pol?tico eleito nas cidades, disparou o seu famoso "se manda daqui, pobre cretino". Uma vez que um insulto nunca ? gratuito, o presidente, um homem urbano at? as extremidades dos seus sapatos, talvez n?o tivesse feito outra coisa sen?o dizer em voz alta aquilo que uma boa parte do povo das cidades teve vontade um dia de dizer ao povo do campo.

Este desprezo ? mundial. Apesar de 75% dos pobres morarem em zonas rurais, a agricultura n?o recebe mais do que 4% dos investimentos p?blicos e 4% das ajudas para o desenvolvimento. Muito al?m de todas as causas conjunturais que foram enumeradas para explicar o surgimento da atual crise dos alimentos - progress?o da demanda, aquecimento clim?tico, concorr?ncia dos biocombust?veis e especula??o financeira -, ? mesmo esta inexist?ncia de meios empenhados na valoriza??o da agricultura que constitui a sua causa principal.

Duas raz?es explicam esta inacredit?vel injusti?a que caracteriza a reparti??o das despesas p?blicas. Diferentemente dos urbanos, os rurais raramente se re?nem para formar um grupo de press?o. Paradoxalmente, ? nos pa?ses desenvolvidos, onde eles s?o menos numerosos, que os agricultores exercem uma maior influ?ncia pol?tica (e recebem ajudas em maiores quantidades). Acima de tudo, at? os ?ltimos meses, o Banco Mundial, junto com a maior parte dos dirigentes, considerava que a agricultura n?o passava de uma atividade secund?ria.

Uma vez que nos pa?ses desenvolvidos, 4% da popula??o conseguem fornecer alimentos para os 96% restantes, por que ent?o ajudar os agricultores dos pa?ses pobres, que quase sempre est?o fadados a partirem para a cidade, onde eles ir?o trabalhar na ind?stria e nos servi?os? Diante disso, o fato de ouvir Robert Zoellick, o presidente do Banco Mundial, se dizer preocupado hoje com a pen?ria de alimentos, causa perplexidade. Isso porque o Banco Mundial desponta como um dos principais respons?veis pela situa??o atual. Pois ? ele que vem impondo h? muitas d?cadas aos pa?ses pobres as metas de reduzir toda e qualquer ajuda financeira e administrativa para este setor e de privilegiar as culturas para a exporta??o. Em conseq??ncia desta miopia, que alguns consideram como impregnada de malevol?ncia de tanto que ela atendeu aos interesses dos pa?ses ricos, os agricultores dos pa?ses pobres sofrem cruelmente de uma car?ncia cr?nica de forma??o e de investimentos p?blicos. Eles s?o v?timas do fato de a auto-sufici?ncia alimentar ter sido, por muito tempo, considerada como ultrapassada.

Ousemos aqui fazer uma indaga??o politicamente incorreta: d? para acreditar que se os pa?ses ricos se interessassem verdadeiramente pelo desenvolvimento agr?cola, eles teriam deixado um africano - o senegal?s Jacques Diouf - exercer tr?s mandatos (de 1994 at?, em princ?pio, 2012) ? frente da FAO, a ag?ncia da ONU encarregada da alimenta??o? At? mesmo a localiza??o da ag?ncia - na It?lia - ? significativa. Ao lado do Banco Mundial e do Fundo Monet?rio Internacional, a FAO n?o tem peso algum. O que pode fazer esta entidade com sede em Roma contra as autoridades de Washington?

A reviravolta que o Banco Mundial est? promovendo neste momento ? uma prova disso: as tens?es atuais, que s?o o resultado de vinte anos de erros e de passividade, est?o conduzindo os respons?veis a considerarem novamente a agricultura como um setor estrat?gico. Enquanto a m?dia e os homens pol?ticos se interessam, sobretudo, pelo curto prazo ("? preciso agir r?pido para salvar o Haiti..."), a FAO n?o dormiu no ponto. Junto com dois outros organismos da ONU, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agr?cola (FIDA) e a Organiza??o das Na?es Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) ela seguiu preparando o futuro, organizando em Nova Delhi (?ndia), de 8 a 11 de abril, o 1? F?rum Mundial das Ind?strias Agr?colas. Mais de 500 pessoas, vindas de 110 pa?ses, participaram.

Alain de Janvry, um professor na universidade de Berkeley, lembrou que a agricultura constitui um setor-chave para o crescimento. Em pa?ses como a China, na ?ndia ou o Vietn?, foi o seu desenvolvimento que permitiu que centenas de milh?es de pessoas sa?ssem da pobreza e que as economias pudessem deslanchar. Al?m do mais, a cria??o de ind?strias agro-alimentares com muita freq??ncia constitui uma primeira etapa rumo a uma economia mais industrial. Enquanto a participa??o da agricultura na economia mundial n?o p?ra de diminuir, a da ind?stria agro-alimentar est? aumentando. Mesmo se os n?meros apresentados s?o particularmente incompletos em raz?o da import?ncia do setor informal (6% dos empregos em certos pa?ses), as ind?strias agro-alimentares, sem d?vida, despontam como o mais importante setor econ?mico no mundo.

Estradas em bom estado e refrigeradores
Atualmente, todo mundo est? de acordo com a seguinte afirma??o: a agricultura tem um futuro. Em raz?o do aumento da popula??o mundial e do crescimento do seu n?vel de vida, a demanda por g?neros aliment?cios dever? duplicar daqui at? 2050. Mas o futuro da agricultura passa necessariamente pela transforma??o dos produtos agr?colas, cuja import?ncia est? crescendo, e, portanto, por uma aproxima??o com a ind?stria. Em fun??o da sua car?ncia de infra-estruturas, um pa?s como a ?ndia perde anualmente cerca de 30% das suas colheitas e acaba se vendo obrigado a tornar-se novamente um importador de cereais. Mais que das biotecnologias, os agricultores dos pa?ses pobres precisam, acima de tudo, de sistemas de irriga??o, de estradas em bom estado e de refrigeradores que lhes permitam ter acesso aos mercados e exercerem uma influ?ncia real diante dos industriais.

Essas constata?es s?o as mesmas na ?sia, na ?frica, na Am?rica Latina e na Europa Central: os agricultores carecem de um meio ambiente capaz de estimular a sua atividade, de organiza?es em forma de rede tais como as cooperativas de produ??o, de forma??o e de infra-estruturas p?blicas. O dinheiro tamb?m faz uma falta tremenda. Mas a crise atual poderia conduzir os investidores a se interessarem por este setor. Desde j?, o banco franc?s Cr?dit Agricole, que at? agora vinha apostando na globaliza??o da sua rede para garantir o seu desenvolvimento, decidiu reatar com as suas ra?zes rurais, organizando um f?rum internacional sobre o financiamento nos diferentes setores da agricultura. Menos por filantropia, e muito mais por ter compreendido onde est? o seu interesse.

Os debates n?o dizem mais respeito ao desaparecimento progressivo da agricultura, mas sim ? sua evolu??o. Contudo, nem todas as ambig?idades foram dirimidas. Os pa?ses do Sul est?o diante de um duplo desafio. Eles precisam de um lado tornar as suas agriculturas mais competitivas, e de outro, reorient?-las em parte, de modo a satisfazerem a sua auto-sufici?ncia alimentar, uma virtude que daqui para frente se tornou sacrossanta, o que n?o ser? nem um pouco f?cil.

Simultaneamente, os pa?ses do Norte ter?o de se conformar com a necessidade de levantarem as suas barreiras alfandeg?rias. Isso porque os programas de ajuda que est?o sendo decididos atualmente a toque de caixa e no desespero despontam, ao menos em parte, como a conseq??ncia das pol?ticas que t?m sido conduzidas ou impostas at? o presente momento pelos pa?ses ocidentais.

Tradu??o: Jean-Yves de Neufville


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