31/05/2010 O Estado de S Paulo Da Reda??o
Eles se queixam de arcar com ?nus dos
alimentos baratos, vendidos abaixo do custo, e da falta de propostas dos
candidatos para o setor
Nos acostamentos das rodovias federais que
cortam o Alto Vale do Itaja?, h? um intenso tr?fego de tratores de grama puxando
pequenas carretas de madeira, que carregam gente e os produtos da regi?o -
arroz, milho, feij?o, leite, cebola, melancia e outras frutas e verduras. S?o o
s?mbolo da agricultura familiar que h? gera?es ocupa terras com ?reas m?dias de
20 hectares, onde predominam descendentes de alem?es e de italianos. Suas
pequenas produ?es ganham escala na Cooperativa Regional Agropecu?ria Vale do
Itaja? (Cravil), que re?ne 3.500 produtores de 36 munic?pios.
Numa tarde
ensolarada de ter?a-feira, oito integrantes da Cravil - sete descendentes de
alem?es e um de italianos -, de diversos munic?pios da regi?o, sentaram-se numa
ampla sala de reuni?es da sede da cooperativa, em Rio do Sul, a 200 km de
Florian?polis, para conversar com o Estado. Na faixa de idade de 39 a 69 anos,
seu ponto de vista ? inevitavelmente emoldurado pelos ?xitos e fracassos de seu
neg?cio: a produ??o de alimentos para o mercado interno.
N?o podemos dizer que
esse governo foi ruim, come?a Frederico Seyffert, de 61 anos. S? que, como
pequenos produtores, tivemos diversos problemas. Com os pre?os baixando e
subindo, tivemos dificuldade de pagar os empr?stimos. Pedro Locks, de 51 anos,
acrescenta: O pequeno produtor n?o tem certeza de que vai poder honrar seus
compromissos. Ele recorda que o pior ano foi 2008: O pre?o do adubo estava muito
alto e entramos muito descapitalizados.
Harry Dorow, de 63 anos, produtor de
leite em Itaja? e presidente da cooperativa, explica que os produtores
precisariam de garantia do governo para vender seus produtos pelo pre?o da
produ??o, e n?o pelo pre?o de mercado da cesta b?sica, que fica abaixo do custo.
Esse pre?o n?o sustenta o pagamento do cr?dito.
Se o governo estabelecesse o
pre?o m?nimo com garantia, estaria desempenhando o papel de governo, define
Harry. Ele lembra que os produtores tiveram essa garantia durante os governos de
Jos? Sarney e de Fernando Henrique Cardoso. Harry explica que os sucessivos
governos t?m mantido, no papel, uma pol?tica de pre?os m?nimos, pelo mecanismo
da Aquisi??o do Governo Federal (AGF). Mas diz que, na pr?tica, as compras, a
cargo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), atingem um volume muito
irris?rio.
Os produtores reconhecem as virtudes de algumas iniciativas
do governo. Segundo Pedro Locks, um programa que ajuda muito ? o Mais Alimento,
que d? dois anos para pagar m?quinas agr?colas, com 3% de juros ao ano e dois
anos de car?ncia. J? Moacir Warmling, de 43 anos, agr?nomo da Cravil, cita o
Programa Nacional de Fortalecimento da agricultura Familiar (Pronaf), destinado
ao custeio e ao investimento.
Mas insiste que, se n?o tem garantia de
pre?o, o produtor compra sementes a um pre?o alto, na entressafra, e vende sua
produ??o a um pre?o reduzido pela oferta abundante no per?odo da safra. N?o tem
como pagar, conclui Moacir. Al?m do pre?o m?nimo baseado no custo da produ??o, o
agr?nomo acha que o governo deveria estipular uma renda m?nima para o produtor.
? apoiado por todos.
?nus. Os produtores sentem que est?o arcando com o
?nus pelo pre?o baixo dos alimentos no Brasil, enquanto enfrentam o pre?o alto
dos insumos, que varia de acordo com o mercado internacional. Segundo Harry, 70%
dos alimentos da cesta b?sica s?o produzidos pela agricultura familiar. (O pre?o
baixo) ? bom para quem compra comida, mas ? ruim para quem produz, observa
Ad?lson St?dile, de 39 anos, o ?nico italiano do grupo. ? bom em termos, porque
pode faltar no ano seguinte, pondera Pedro, referindo-se ? falta de est?mulo
para plantar.
O Bolsa-Fam?lia tamb?m ? visto desse ?ngulo. ? uma maneira
de escoar a produ??o e dar alimento aos que precisam, analisa Harry. Em si, n?o
? ruim. Mas o agricultor, com sua renda baixa, est? sustentando esse tipo de
programa via alimento barato. Segundo ele, com o tratamento que a agricultura
vem recebendo ao longo dos anos, n?o s? nesse governo, 1% dos agricultores tem
abandonado suas terras a cada ano. Muitos v?o morar na favela, precisam de
alimento e recebem Bolsa-Fam?lia, diz ele, desenhando um c?rculo vicioso.
O problema, concordam todos, n?o ? a capacidade de produzir, mas de
gerar renda. Isso fica patente no ?xodo dos jovens, filhos dos agricultores, que
deixam suas terras em busca de oportunidades nas cidades. Na grande maioria das
fam?lias, a idade m?dia passa dos 50, estima Baldo?no Schutze, de 63 anos.
(Nossa terra) est? virando dormit?rio, sorri Henrique Backmeier, de 65. Como
veem que n?o conseguem renda adequada na produ??o, os filhos v?o para a cidade,
procuram outro tipo de trabalho e continuam morando com os pais, explica Harry.
M?o de obra. Frederico tem uma filha e um filho com mais de 30 anos, e
um sobrinho de 38 que ele criou, que trabalham nos 33 hectares de terra dele em
Pouso Redondo, dos quais 24 hectares de arroz. J? as outras duas filhas com
menos de 30 trabalham na cidade - uma casou-se e foi para Manaus. Ele ainda
arrenda as terras de tr?s vizinhos: um tem filho farmac?utico, outro tem duas
filhas que estudaram direito e o terceiro tem filhos pequenos e n?o mora na
terra.
O filho de Pedro de 26 anos formou-se em direito e est? indo
trabalhar em Indaial, a 70 km de Rio do Sul; o outro, de 23, tem oficina de
eletrodom?sticos. A agricultura familiar da regi?o j? enfrenta grande
dificuldade de encontrar m?o de obra. Trabalhadores v?m de Pernambuco para a
colheita do algod?o.
Eles se queixam tamb?m da situa??o das estradas
para escoar a produ??o. A BR-470 n?o tem nem acostamento, diz Pedro. Ela liga a
regi?o ao oeste de Santa Catarina, onde se concentra a ind?stria do Estado, e
aos portos de Itaja? e Navegantes. A BR-282 at? um tempo atr?s estava feia,
agora est? boa, observa Baldo?no, referindo-se ? outra estrada federal que d?
acesso ? regi?o. O novo governo deveria incrementar a estrada de ferro e a
navega??o fluvial, opina Harry. Diminuiria nossos custos de transporte e
escoamento da produ??o.
Outra preocupa??o dos agricultores ? com as
exig?ncias ambientais. Segundo eles, as normas do C?digo Florestal Brasileiro -
20% de reserva de mata legal mais as ?reas de Preserva??o Permanente (APPs), que
s?o as encostas de morro e as beiras de ?gua - n?o s?o aplic?veis na regi?o.
Aqui tem muitas nascentes, rios que cruzam a propriedade inteira,
explica Henrique, que admite que j? foi multado em sua propriedade de 47
hectares, em que produz milho, feij?o e leite. Se for respeitar, fica invi?vel.
Baldo?no diz que nunca foi multado, mas amea?ado: O agricultor ? tratado como
bandido. A pol?cia vem com fuzil at?. Comprou, pagou, e de repente n?o pode
usar. Os agricultores acham que deveriam ser remunerados pelo servi?o ambiental
de manter as matas.
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