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JBS: Vale a pena um campeão nacional?

08/11/2010
Jos? Roberto Mendon?a de Barros
jr.mendon?a@mbassociados.com.br

Ap?s sucessivos aportes de recursos realizados pelo BNDES, uma abertura de capital e a absor??o de v?rias empresas, incluindo o Frigor?fico Bertin, o JBS transformou-se num gigante. ? a maior empresa mundial de prote?na animal, trabalhando com as carnes de boi, frango e su?nos, al?m de leite. Opera tamb?m na Argentina, Estados Unidos, Austr?lia e It?lia. Nesse processo, o suporte do BNDES foi t?o grande quanto fundamental: algo como R$ 10 bilh?es, entre subscri??o de a?es, empr?stimos e compra de deb?ntures. Tendo isso em mente, vale perguntar se o Pa?s ganhou com a opera??o, uma vez que os ganhos dos acionistas originais s?o evidentes. Tive nesse trabalho uma inestim?vel ajuda de Jos? Carlos Hausknecht (s?cio da MB Agro). Destaco que n?o se faz aqui uma an?lise da companhia em si, mas da escolha de se reintroduzir uma pol?tica de campe?es nacionais.

Comecemos com os aspectos comerciais externos:

- Estamos exportando mais?
N?o. Em quantidade, a m?dia mensal de vendas ao exterior ainda ? inferior a 2008, quando a Uni?o Europeia colocou restri?es, que ainda existem, ?s vendas brasileiras. A exist?ncia do campe?o nacional n?o parece ter alterado qualquer tend?ncia. - Estamos penetrando em novos mercados? Mais uma vez, n?o h? evid?ncias que o campe?o nacional tenha contribu?do para tanto. O Brasil continua acessando menos da metade do mercado mundial de carne vermelha, vendendo essencialmente para os pa?ses de renda mais baixa, produtos menos nobres e mais baratos. Os conflitos com a Uni?o Europeia continuam os mesmos. Estamos ainda longe de acessar os mercados mais nobres, como Jap?o e Coreia. Ao contr?rio, do ponto de vista das exporta?es, h? um evidente conflito de interesses, pois a JBS-USA concorre com a carne industrializada brasileira l? e em outros mercados. O caso da controlada Pilgrim"s Pride ? mais peculiar, pois a for?a comercial dos Estados Unidos garantiu para suas exporta?es a maior parte do mercado russo, ?s expensas do produto brasileiro. O financiamento para expans?o mundial nesse caso ? diferente do projeto de fus?o de duas empresas nacionais (por exemplo, Aracruz e VCP), caso em que as sinergias s?o absorvidas no pa?s.

- Melhorou a qualidade sanit?ria das exporta?es?
Mais uma vez, n?o h? evid?ncias disso. Pior, coincid?ncia ou n?o, as exporta?es de carne industrializada nacional para os EUA foram suspensas desde maio, por alegado uso n?o conforme de verm?fugos em f?brica do JBS. Apenas recentemente as barreiras foram removidas. Quanto aos impactos internos, vale destacar que n?o percebo grandes efeitos positivos na cadeia produtiva, pelo menos para os pecuaristas, pois o poder de mercado da empresa ficou enorme em boa parte das ?reas de produ??o. ? claro que isso decorre tamb?m da quebra de v?rias empresas, como Quatro Marcos, Margem, Independ?ncia, Arantes e Frigoestrela. Entretanto, o JBS, com sua folga financeira, refor?ou sua posi??o ao arrendar v?rias f?bricas do Quatro Marcos. Naturalmente, os pre?os do boi est?o altos hoje (e as margens dos frigor?ficos menores) por escassez de oferta e n?o pela consolida??o do mercado.

A escolha dos campe?es nacionais, especialmente JBS e Marfrig, precipitou a situa??o financeira de muitos frigor?ficos, especialmente m?dios e pequenos. Alguns j? pediram recupera??o judicial. Outros est?o em dificuldades, pois o mercado de cr?dito passou a temer o risco das n?o escolhidas; sem cr?dito, o setor paralisa e n?o funciona. A solu??o aventada, de fazer a fus?o de algo como 15 pequenas empresas, n?o tem a menor base na realidade. Quem j? assistiu a alguma tentativa de incorporar duas empresas familiares, sem gest?o profissional, sabe das dificuldades envolvidas. Imagine um lote de empresas dispersas geograficamente!

Teria havido alguma mudan?a tecnol?gica ou organizacional decorrente da cria??o do campe?o?
Tamb?m aqui n?o h? qualquer evid?ncia dispon?vel. O grande problema com a cria??o de uma empresa dessa natureza, mesmo depois de resolvida a quest?o do capital, ? cultural e organizacional. N?o se transforma uma empresa local em internacional em cinco ou seis anos. Tive a oportunidade de ver isso pessoalmente quando participei do Comit? Estrat?gico da Companhia Vale do Rio Doce, de 2001 a 2004. Na ocasi?o, a Vale tomou a correta decis?o de diversificar seu portf?lio de produtos e de pa?ses onde desenvolver novas minas. Rapidamente, a empresa percebeu as dificuldades dessa expans?o, pois mesmo operando h? d?cadas no mercado internacional e tendo um quadro de pessoas de classe mundial, desconhecia o ambiente onde passaria a trabalhar. As dificuldades trabalhistas que enfrenta at? hoje no Canad?, com a Inco, ilustram bem o ponto.

Pessoal qualificado, conhecimento dos mercados, gest?o ? dist?ncia, planos de remunera??o, preparo para negocia?es, inclusive trabalhistas, planos de conting?ncia para enfrentar situa?es inesperadas ou adversas s?o quest?es que exigem muito tempo para serem adequadamente respondidas. Mesmo experimentadas empresas j? multinacionais perderam e ainda perdem muito dinheiro ao se aventurar na China. N?o existe m?todo "From Goi?s" que produza resultados s?lidos em um par de anos. Tudo fica mais dif?cil ainda quando se trata de alimentos, ante diferentes regimes de defesa do consumidor, especialmente onde essas coisas s?o levadas muito a s?rio.

Considere-se, por exemplo, a quest?o do conhecimento dos mercados e players e os casos da opera??o na Argentina e da Inalca. Qualquer analista que conhe?a a Argentina sabe h? muito tempo que uma sucess?o de governos populistas, num regime de gigantesca concentra??o de poder na presid?ncia, resulta num grande risco pol?tico e regulat?rio. Em outras palavras, ? muito comum um bom projeto ser destru?do por interven??o do governo. Disso sabem muito bem industriais brasileiros como os cal?adistas; sabe tamb?m at? a Petrobr?s. Entretanto, o JBS entrou com tudo no pa?s ao comprar a Swift local. Desde ent?o, a coloca??o de impostos nas exporta?es e as interven?es diretas do famoso ministro Moreno est?o liquidando o setor de pecu?ria na Argentina. O nosso vizinho deixou de ser um fornecedor de import?ncia no mercado internacional (at? julho deste ano a Argentina exportou, em m?dia, apenas 27 mil toneladas de carne por m?s; o Brasil, por sua vez, exportou neste mesmo per?odo 138,6 mil toneladas), bem como seu rebanho est? se reduzindo em termos absolutos. O resultado ? que as plantas do JBS est?o fechadas e, aparentemente, ? venda.

O investimento na Inalca italiana transformou-se, como se sabe pela imprensa, numa enorme dor de cabe?a. O conflito entre acionistas ser? resolvido pela justi?a italiana e o resultado ser? a sa?da de um dos dois s?cios. Lembro esse caso n?o apenas por sua import?ncia, mas tamb?m porque, na ocasi?o do neg?cio, um executivo internacional muito experiente disse-me que estava surpreso pela opera??o, pois a Inalca era uma empresa, digamos assim, muito complicada. ? um caso t?pico de insufici?ncia de informa?es num novo mercado. O caso do JBS como campe?o n?o parece muito brilhante. Aparentemente, o mercado tamb?m tem a mesma opini?o. A a??o foi lan?ada em mar?o de 2007 a R$ 8,00.

Enquanto escrevo este artigo, seu valor ? de R$ 6,51, sendo a empresa agora muito maior do que naquela ocasi?o. N?o ? simples criar um campe?o nacional.


Publicado em O Estado de S. Paulo

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