16/10/2007
Renegocia??o outra vez
Roberto Rodrigues
EST? DE volta a discuss?o sobre nova renegocia??o das d?vidas dos agricultores. O assunto ? recorrente e d? a impress?o desagrad?vel de que o campo nunca paga suas d?vidas e vive pedindo para prorrog?-las.
A repeti??o da mat?ria exige explica?es ? sociedade. Tudo come?ou com o programa de substitui??o das importa?es, h? d?cadas, mas o grande golpe aconteceu no Plano Collor. Naquela ocasi?o, quando se deu o confisco das poupan?as dos brasileiros, a agricultura viveu uma situa??o injusta: as d?vidas dos produtores rurais foram corrigidas pelo IPC, em 84%, enquanto os pre?os agr?colas foram corrigidos pela BTN, em 42%. Ora, um agricultor que devia ao banco um empr?stimo de 100 no dia 14 de mar?o de 1990 e ia colher uma safra no valor de 110, pagaria as d?vidas e ainda sobrariam 10 unidades monet?rias para tocar o neg?cio. E acordou, dia 15 de mar?o, com o Plano Collor, devendo 184 e com a safra valendo 152! Uma d?vida nova, eminentemente cont?bil, sobre a qual n?o tinha a menor responsabilidade. Foi um desastre, e depois de anos dif?ceis, quando as coisas come?avam a melhorar, veio outro golpe, o Plano Real. De novo houve um descasamento: as d?vidas foram corrigidas pela famigerada TR e quase dobraram em um ano, enquanto os pre?os agr?colas foram esmagados, em nome do combate ? infla??o.
Mais d?vida escritural.
A essas crises se somaram a abertura comercial plena, que exp?s nossos produtos agr?colas sem nenhuma prote??o aos concorrentes subsidiados dos pa?ses ricos; e a pr?pria estabiliza??o interna da moeda, exigindo muito mais efici?ncia na gest?o rural. Um duro per?odo, em que milhares de agricultores perderam tudo o que tinham e foram expulsos do campo.
A partir de 1999 -com a desamarra??o cambial-, o governo iniciou um programa de renegocia??o das d?vidas agr?colas, em reconhecimento de que elas eram, em grande parte, responsabilidade dele mesmo, em seus esfor?os para acabar com a infla??o.
Com as d?vidas renegociadas -e sem perd?o de um ?nico centavo-, os agricultores voltaram a ter direito a novos cr?ditos, para tocar a atividade e a vida para a frente.
Vieram outros bons programas, como a oferta de mais recursos para cr?dito de custeio com taxas prefixadas e a cria??o do Moderfrota, um cr?dito especial para investimentos em m?quinas, tratores, colhedeiras e equipamentos mecanizados.
Com o c?mbio favor?vel e os bons pre?os internacionais, houve uma lufada de capitaliza??o, e os agricultores entraram firmes no Moderfrota, modernizando seus equipamentos, melhorando o padr?o tecnol?gico e deslanchando a produtividade.
2007, a ?rea plantada com gr?os aumentou 24,9% enquanto a produ??o cresceu 59,1%. Um sucesso! Em clima de otimismo, os produtores inauguraram 2004 com os motores roncando pelo pa?s afora, investindo, abrindo terras, criando empregos, riquezas e renda, gerando excedentes export?veis e grandes esperan?as. E todo mundo comprando a cr?dito, juros correndo todo dia santo e feriado.
De repente, o c?u caiu na cabe?a agr?cola. Os pre?os come?aram a despencar, veio uma seca brutal, apareceu a aftosa, os mercados se fecharam, o c?mbio tirou 30% da renda rural em quatro anos e tudo escureceu. Sem renda, as d?vidas ficaram insol?veis. Agora, n?o tem sa?da para voltar a arejar o campo: s? mesmo outra renegocia??o.
Mas, para evitar isso no futuro, ? preciso implementar uma pol?tica de renda.
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ROBERTO RODRIGUES , 65, coordenador do Centro de Agroneg?cio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agroneg?cio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos s?bados, a cada 15 dias, nesta coluna.
