Produção de laranja escoa pelo comércio informal

14/07/2008

Elas desceram dos pomares, pularam as cercas das fazendas e invadiram as rodovias mineiras, várias praças de municípios da Grande BH e os sinais de trânsito da capital. Entre os carros na hora do rush, sob a sombra das carcaças de caminhões às margens das rodovias ou, até mesmo, em sacos nos ombros dos vendedores, o comércio informal de frutas cítricas, principalmente laranja e mexerica, cresce com a entrada da safra. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater MG), cerca de 10% da produção estimada desses citros, ou 60 mil toneladas vão ser vendidas sem a intermediação de empresas, este ano.

O abastecimento desse mercado é feito diretamente pelos pequenos produtores ou por meio do setor de varejo das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas). O produto chega depois de firmados os acordos com a indústria e com os próprios fornecedores dos sacolões, mas se engana quem imagina haver restos nas barracas.

Enquanto o limão caminha para a entressafra, em agosto e setembro é época de laranja-pêra rio, campista, serra d´água e tangerinas sortidas. A mexerica ponkam está no pico da safra e os próximos tipos da estação são murgote e carioca. Graças a elas, a comida está garantida na mesa araçuaiense Márcio Guedes Santos, de 23 anos. Há três meses, ele trocou a enxada no Vale do Jequitinhonha pela barraca de frutas na BR-040, em Contagem. A remuneração diária saltou de R$ 2 para R$ 10 por dia. "Não sou o dono, só tomo conta", esclarece.

Um fornecedor busca a carga na Ceasa para recompor, quase diariamente, o estoque de quatro pontos de venda ao longo da estrada. "Em vez de morrer pela boca, aqui o peixe é fisgado pelo olho. Fruta velha não vende", diz o lavrador. Segundo ele, o proprietário lucra R$ 2 em cada saco de 16 quilos da laranja-pêra rio. Por dia, cerca de 30 sacos são vendidos a R$ 10. Depois de provar uns gomos, o funcionário público Jaeder Albano Morais, de 53, preferiu levar seis mexericas por R$ 1. Nesse caso, a margem do dono é 50% menor. "O preço é quase igual ao dos sacolões de Sete Lagoas. Vale a pena pela qualidade", compara.

Para agradar aos clientes, algumas barracas oferecem frutas geladas e descascadas "e o plus nos negócios já agrega outros fornecedores. É o caso de Reginaldo Diniz Costa, de 43, que percorre as estradas vendendo sacos de gelo de 20 quilos a R$ 10. "Mesmo com o frete, ainda compensa", afirma. Mas nem tudo corre às mil maravilhas. Recentemente, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) fez uma operação de roçada nas BRs, com segurança da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Resultado: grande parte dos vendedores teve que abandonar seus pontos.

"Diminui a concorrência. Em compensação, no frio, as pessoas levam menos frutas para casa, à exceção da laranja para a gripe", pondera Eduardo Francisco Rodrigues, dono de uma barraca em Ribeirão das Neves. Ele adotou medida criativa para driblar a fiscalização dos patrulheiros. Alugou uma barraca de bambu fora do acostamento e, quando os policiais se aproximam, corre com as sacas nas costas. "Dizer que o comércio é fator de risco para quem trafega nas rodovias é conversa", garante Marcelo Santos, morador de Sete Lagoas, enquanto negocia a compra de um saco de laranja. "Eles fazem a clientela só no boca-a-boca", completa.

 

Data Edição: 11/07/08   

Fonte: Uai.com.br   

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