Exportação de NFC cresce 20,1%.

14/05/2009

 

A recente valorização do suco de laranja no mercado internacional, sustentada por movimentos financeiros derivados da crise global e ameaças climáticas e fitossanitárias à produção da fruta na Flórida, não representa uma mudança para melhor nas perspectivas para a cadeia produtiva brasileira no curto e médio prazos.

 

Reunidos ontem em São Paulo na conferência "Juice Latin America", promovida pela IBC e pela consultoria AgraFNP, especialistas voltaram a realçar que a demanda global pelo suco de laranja concentrado e congelado segue retraída e que o avanço de outras bebidas à base de frutas segue crescente.

 

 As altas do suco nos últimos meses ainda não se refletiram nos preços que os produtores de laranja recebem das indústrias pela fruta - nem em São Paulo nem na Flórida, que reúnem os dois maiores parques citrícolas do planeta, com larga vantagem para o polo brasileiro - e os custos de produção permanecem salgados, apesar da queda dos insumos em relação ao ano passado.

 

Esta conjunção tende a comprometer a oferta nos próximos anos e até abrir espaço para aumentos mais palpáveis e duradouros nas cotações do suco. Mas, mesmo assim, os sinais indicam que a demanda continuará frouxa e que a cadeia produtiva sairá enfraquecida desse processo.

 

"O cenário estrutural não mudou. A queda do consumo [global] se confirma e já ficou claro que há um novo ponto de equilíbrio entre oferta e demanda. A oferta precisa cair para o preço subir", afirma Maurício Mendes, presidente da AgraFNP e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi).

 

Ele lembra que, até a primeira metade desta década, ainda era possível prever aumento dos preços do suco em caso de produção conjunta de laranja de São Paulo e Flórida inferior a 500 milhões de caixas de 40,8 quilos. Hoje, não mais, e o novo "ponto de equilíbrio" precisa ser descoberto.

 

Na safra 2008/09, o segmento calcula que a produção paulista - que representa cerca de 80% do total nacional - foi de, no máximo, 300 milhões de caixas, enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima 157,6 milhões de caixas para a Flórida.

 

Na bolsa de Nova York, os contratos futuros de segunda posição de entrega fecharam ontem a 95,75 centavos de dólar por libra-peso, 41% mais que em 31 de dezembro de 2008. Porém, em relação ao pico histórico de US$ 2,0665 alcançando em 18 de dezembro de 2006 com os danos causados por furacões à citricultura da Flórida, a queda é de 53,67%.

 

Dados os atuais problemas na Flórida e a renovação das apostas de fundos de investimentos em commodities agrícolas em virtude da redução da rentabilidade de outras aplicações, Mendes não acredita que o preço médio em Nova York será menor em 2009 do que foi em 2008 - US$ 1,0920 por libra-peso, segundo o Valor Data.

 

Mas a demanda anda tão decepcionante que não há unanimidade em torno dessa perspectiva. Em análise exposta na conferência de ontem em São Paulo, Walbert Antônio dos Santos, sócio da Delloitte, projetou grande volatilidade e diminuição de preços em 2009.

 

Santos destacou, contudo, que analistas internacionais acreditam que as cotações podem subir pelo menos 20% até 2013, em grande parte puxadas pelo crescimento da demanda asiática no pós-crise global. Em 2010 poderão haver sinais dessa recuperação de preços, mas ela seria intensificada nos anos seguintes.

 

Nesse cenário, Santos prevê queda na receita das exportações brasileiras neste ano, mesmo levando-se em conta o avanço dos embarques de suco de laranja não concentrado (NFC, na sigla em inglês). Em 2008, conforme a Secex, as vendas de suco congelado ao exterior renderam US$ 1,145 bilhão, 25,8% menos que no ano anterior, enquanto as de NFC somaram US$ 852,2 milhões , 20,1% mais na mesma comparação.

 

Segundo Santos, mercados maduros como EUA e Europa preferem o NFC. Para o suco concentrado e congelado, a demanda mostra-se mais firme em regiões como Ásia, Leste Europeu, Oriente Médio e América Latina. Mas, nestas, os volumes importados ainda são tímidos.

 

Em todos os mercados, o consumo por sucos prontos e outras bebidas e refrigerantes à base de frutas, normalmente mais baratas que o suco de laranja integral, segue em alta, o que dificulta sobremaneira a recuperação dos preços da commodity.

 

Conforme Juliane Pestana, gerente da AC Nielsen, o consumo de sucos prontos para beber cresceu 6,1% em 2008 no Brasil e esses produtos já chegam a 63% dos lares. Bebidas à base de soja avançaram para 37,5% dos lares. E esses crescimentos, afirmou Juliane, são impulsionados por marcas de custo mais baixo.

 

Não deixa de ser um alerta importante para as grandes indústrias brasileiras de suco de laranja, concentrado ou não, cujos produtos costumam custar mais do que os mais caros concorrentes.

 

Fonte: Valor Econômico

Â