Área plantada com laranja diminui mais de 50% em 15 anos

23/01/2006
Bebedouro, conhecida como a “Capital Nacional da Laranja”, vê seus pomares cederem espaço para a cana-de-açúcar. Na década de 1980, até meados da de 90, Bebedouro ostentava com orgulho o título de “Capital Nacional da Laranja”. Com 45 mil hectares de área plantada e produção entre 12 e 15 milhões de caixas de laranja por safra, o município vivia tempos de abundância. A famosa “Festa da Laranja” brindava o público com apresentações musicais internacionais, como Ray Connif e sua Orquestra e artistas não menos famosos que Chitãozinho & Xororó, Gal Costa, Frejat (Barão Vermelho), Fábio Júnior e Daniela Mercury. Hoje a realidade é bem diferente. A área plantada com laranja diminuiu para 23 mil hectares e a produção não ultrapassa 7,7 milhões de caixas. “Atualmente, o município possui 4,8 milhões de pés em produção e 600 mil novos pés. O que ameniza a situação é que 25% dos pomares de Bebedouro são irrigados”, constata Walkmar Brasil de Souza Pinto, agrônomo da Casa da Agricultura de Bebedouro. A tecnologia implantada no município é a grande responsável pela atual produção (7,7 milhões de caixas), que ainda o mantém como o maior produtor das regiões norte e noroeste do Estado. “No Estado de São Paulo, apenas 12% dos pomares são irrigados, ou seja, Bebedouro possui mais que o dobro de pomares irrigados em comparação ao Estado, daí sua produção ser superior à da maioria das demais regiões citrícolas”, explica Walkmar. A diminuição da área plantada com laranja deve-se aos altos custos de produção. Desde 1995, pequenos e médios produtores se vêem obrigados a abandonar a citricultura. Os contratos, fechados com a indústria, em torno de R$ 8 por caixa, não cobrem sequer os custos, que hoje vão de R$ 11,30 a R$ 15 por caixa. “Assim, fica praticamente impossível se manter na atividade. O grande problema é que o produtor, na hora de negociar com a indústria, se esquece dos custos que tem com a manutenção do seu patrimônio”, diz o consultor Márcio Borella, responsável pela elaboração da planilha de custos da Associtrus. “Em 2002, um trator Massey Ferguson 275 custava R$ 25 mil. Hoje, o mesmo maquinário não sai por menos de R$ 65 mil”, constata Walkmar. O dado mais preocupante é que 99% dos produtores que abandonaram a citricultura nos últimos anos cederam seus hectares para a cana-de-açúcar. “Hoje temos 29 mil hectares de cana no município, ou seja, a laranja está sumindo em meio aos canaviais”, lamenta o agrônomo Gilberto Basile, diretor da Casa da Agricultura de Bebedouro, acrescentando que acredita na recuperação da laranja em função da queda da safra nos EUA e da recuperação do preço do suco no mercado internacional. A substituição da cana pela laranja se reflete nos baixos índices de desenvolvimento dos municípios citrícolas. “Antigamente a economia da região crescia a taxas elevadíssimas, hoje podemos dizer que ela está estacionada ou até estagnada. O cortador de cana tem uma remuneração baixíssima - principalmente quando comparado ao do colhedor de laranja - e ao se instalar na cidade não colabora em nada com o comércio local. Muitos deles são imigrantes do norte e nordeste do país e, ao se encantarem com a estrutura das cidades da região sudeste, não querem mais voltar para sua terra natal. Além disso, a cana polui o ar, suja a cidade e contribui para o aumento do consumo de água”, diz Walkmar. Hoje, a citricultura é viável apenas para os grandes produtores que possuem capital para investir em tecnologia. A única alternativa para os pequenos e médios citricultores é a organização. “Oitenta e cinco por cento dos produtores de Bebedouro possuem menos de 10 mil pés, ou seja, são pequenos. Daí a necessidade urgente de eles se associarem a entidades capazes de divulgar informações de centros de pesquisas responsáveis pela manutenção da citricultura no país e no mundo”, frisa Walkmar. A representação política também é extremamente importante. “Os produtores da Flórida conseguiram USS 200 milhões do governo graças à sua representatividade política. Precisamos nos unir para conseguirmos apoio do governo e somarmos forças suficientes para lutar contra as imposições da indústria”, diz Flávio Viegas, presidente da Associtrus.