MP de SP investigará manutenção de cartel em indústrias

30/04/2009

Dificuldades financeiras dos citricultores devem derrubar em até 20% a safra deste ano, segundo Associtrus



O Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec), solicitou  acesso aos documentos apreendidos na “Operação Fanta”, desencadeada pela Polícia Federal (PF) em 2006 para investigar denúncia de prática de cartel nas indústrias de processamento de suco de laranja. O objetivo do MP é acelerar as investigações, após novos indícios levantados pela Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), apontando para a manutenção da prática ilegal no setor, mesmo depois da ação da Polícia Federal.

Gilberto Leme Marcos Garcia, Promotor de Justiça, diz que estão no alvo do Ministério Público as empresas Cutrale, Citrosuco, Citrovita (controlada pelo grupo Votorantim), Louis Dreifus e Basitrus, que juntas dominam as exportações brasileiras e mundiais de suco de laranja.

As investigações começaram em 2006, após denúncia feita pela Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus). A PF invadiu as empresas de suco de laranja, apreendeu documentos e computadores. Desde então, seguidas vezes os empresários
conseguiram liminares impediram a abertura do material. No mês passado, a Justiça de Araraquara derrubou a última liminar e o material apreendido na Cutrale começou a ser analisado. No entanto, o processo corre em segredo de Justiça.

 “De lá para cá, as empresas não conseguiram demonstrar que estão livres do cartel. Por isso, a investigação será ampliada”, alegou Garcia.

Para Flávio Viegas, presidente da Associtrus, diz que a decisão do Ministério Público reacende a tentativa de acabar com o cartel no setor. “Há tempos estávamos denunciando o cartel, mas muito pouco foi feito até agora”, diz ele.

Quebra na safra

A prática de cartel aliada a fatores climáticos e a falta de dinheiro dos citricultores para se manter na atividade devem derrubar em até 20% a safra deste ano, segundo Flávio Viegas. Ele diz que os produtores que são vítimas do cartel estão recebendo muito pouco pela caixa da laranja de 40,8 quilos e isso acaba afetando toda a cadeia. “Sem dinheiro suficiente a manutenção dos pomares e o combate a pragas e doenças, como a greening, por exemplo, ficam comprometidos”, alerta.

“A indústria paga hoje de R$ 7 a R$ 17 pela caixa, de acordo com o grau de proximidade com o produtor. A empresa divide os produtores em três escalas: a primeira é a de produtores que as empresas querem que permaneçam no mercado, para estes o pagamento pela caixa é maior; o segundo grupo é de produtores medianos, que as empresas ainda querem que permaneçam no mercado por um tempo determinado e a terceira parte dos produtos é o grupo que ganha menos, porque as empresas querem que saiam do mercado imediatamente”, denuncia Viegas. “Os números a respeito da safra de laranja são sempre obscuros, mas acreditamos que só no ano passado a quebra de safra foi de mais de 25%.

A produção nacional de laranja é de 400 milhões de caixas de 40,8 quilos cada, sendo o Estado responsável por mais de 80% desta produção.

Chistian Lohnauer, diretor da associação que está sendo formada para defender os interesses das indústrias de suco, em substituição à Associação Brasileiras dos Exportadores de Citrus (Abecitrus), diz que ainda não pode se manifestar sobre o assunto. “Nosso estatuto ainda está sendo formado, mas o interesses da nova entidade é esclarecer estas denúncias”, declarou ontem.  Procuradas, as empresas alegaram que ainda não tinham sido notificadas dadecisão do Gedec.

 

Fernanda Manécolo

 Tribuna Impressa