Por: FLávio Viegas
Â
Há cada dia menos citricultores e menos que comemorar.
O cartel que domina o mercado é, sem dúvida nenhuma, o maior responsável pela situação atual da citricultura, porém, nós, os citricultores, também temos uma parcela de culpa. A falta de união e de organização facilitou as coisas para que a situação chegasse ao ponto a que chegou e apenas uma pequena minoria tem consciência da real causa da deterioração da nossa situação e apenas uma fração destes se dispõe a agir.
O primeiro passo para a ação deve ser uma clara compreensão do que está ocorrendo no mercado através dos dados disponíveis.
Os números que temos não justificam o que vem acontecendo no nosso setor. Alega-se a queda da demanda, porém as estatísticas indicam, no período de julho a abril, uma redução de apenas 3,1% nas nossas exportações, cujas quedas de embarques para a America do Norte e Ásia são amplamente compensadas pelo crescimento do nosso maior mercado, a Europa. Fala-se em aumento de estoques, porém os dados publicados pelo USDA estimam estoques, no Brasil, da ordem de 53.000 t, no final desta safra, o que corresponde a apenas 15 dias de nossas exportações. Os relatórios do mesmo USDA para a Europa indicam estoques da ordem de 15.000t apenas, o que corresponde a cerca de uma semana de consumo.
A produção de laranjas na Flórida e em S. Paulo, maiores produtores mundiais de suco de laranja, vem caindo numa velocidade maior do que a prevista, segundo estudo feito pelos maiores especialistas do setor, na Universidade da Flórida. Na média das três últimas safras, a produção somada da Flórida e de S. Paulo foi cerca de 9% inferior ao previsto, enquanto o consumo superou em 1% a previsão contida no estudo realizado pela Universidade, o que deveria acarretar um aumento de preço do suco e da laranja, exatamente o oposto do que está ocorrendo.
Com estes dados, precisamos mobilizar-nos, indo em grupo a São Paulo e a Brasília, para que os governos, tanto o estadual como o federal, intervenham no setor e estabeleçam um preço mínimo para a laranja. Propomos que os produtores, apesar de estarem pressionados para começarem a processar sua fruta, não comecem a colheita, enquanto não tivermos um preço justo pelo nosso produto, pois, ao entregarmos nossa produção por preços abaixo do custo, estaremos enfraquecendo-nos e fortalecendo a indústria.
A outra demanda ao governo é a reabertura da fábrica da Citrosuco, onde poderemos tanto processar nossa fruta como contribuir para restabelecer a concorrência pelo setor.
Não é uma luta fácil, mas os citricultores independentes somente sobreviverão se assumirem a responsabilidade de se engajarem na luta.
Â
Fonte: JORNAL IMPACTO
          Bebedouro/SP |