Citricultura desesperada

03/08/2009

Por: Flávio Viegas

Enquanto o citricultor desesperado vê sua safra apodrecer no pé, a indústria festeja novos investimentos em navios e em terminais portuários na Flórida, para exportar suco norte-americano para os mercados que o Brasil conquistou. A indústria de suco, entre outros investimentos, acaba de contratar na Croácia um navio para transportar 32 milhões de litros de suco e investe US$30 milhões em um novo terminal na Flórida, assegurando ao citricultor daquele estado americano que o terminal será usado para exportação de suco produzido nos EUA e não para importação de suco do Brasil.

A falta de compromisso com a coerência e com a verdade é o traço mais marcante dessa indústria.  Gera desemprego e desespero, ao fechar fábricas alegando falta de matéria- prima e ao deixar produtores sem contrato e fruta sem compra com o argumento oposto, excesso de laranja!

A nova entidade representante da indústria, que, até agora, mudou apenas de nome, pois o discurso continua o mesmo, tenta fazer crer que o suco de laranja,controlado por um cartel de quatro empresas que detêm mais de 80% do mercado, tem seu preço determinado exclusivamente pela oferta e demanda. O valor do suco na bolsa de NY é tão pouco representativo, que o produtor da Flórida recebeu, pela fruta entregue na porta da fábrica, US$ 7,40/cx, valor mais de 15% acima do valor da cotação do suco na bolsa. A matéria-prima valendo mais do que o produto final!

Para comprovar a pouca representatividade da bolsa na formação do preço do suco é importante verificar que, enquanto na bolsa de soja o volume transacionado é muitíssimas vezes superior ao volume produzido, na bolsa de suco o volume transacionado é uma fração insignificante do volume produzido.

A indústria alega, falseando a verdade, que os produtores sem contrato são aqueles que optaram por operar no mercado “spot” e que o setor se caracteriza por uma feroz concorrência.

A forma de atuação no mercado de compra de fruta mostra claramente que as empresas continuam atuando de forma uniforme e sincronizada no mercado, não disputando matéria-prima e dividindo os produtores entre si, pois o acordo firmado entre elas é o de manutenção da participação de cada empresa no mercado.

Os dados da SECEX e do USDA não dão suporte às informações de queda de demanda e aumento de estoques que justifiquem a atuação das fábricas de suco. Após mais de uma década de crescimento das exportações, há uma estabilização do volume exportado pelo Brasil e, em conseqüência da queda da produção, os estoques de passagem caíram para um patamar equivalente a 15 dias de exportação. O mercado europeu, maior mercado brasileiro, continua a crescer, compensando a queda em outros mercados.

Outro fator muito importante é o crescimento das exportações do suco NFC, que embora seja registrado por cerca de US$ 300/t tem sido comercializado na faixa entre US$500 e US$ 800, o que representa um grande aumento de faturamento não contabilizado e não compartilhado pelos produtores. Assim, o patrimônio do produtor vem sendo transferido para a indústria, empregos e economia de importantes regiões estão sendo destruídos diante de autoridades autistas.

Foi assim que os citricultores festejaram,  o Dia do Agricultor.

 

Crédito: JORNAL IMPACTO