ESPAÇO CITRÍCOLA ENTREVISTA FLÁVIO VIEGAS.

03/10/2007

PRESIDENTE DA ASSOCITRUS FLAVIO VIEGAS FALA DOS PROBLEMAS DA CITRICULTURA AO “ ESPAÇO CITRICOLA”.

 

ESPAÇO CITRICOLA (EC) - Um breve resumo de suas vitórias e desafios ainda por serem vencidos na citricultura. Da sua última entrevista ao ESPAÇO para cá (mais ou menos 3 anos).

 

: FLÁVIO VIEGAS ( FV) - A Associtrus consolidou-se nesse período. Seu reconhecimento como legítima representante dos citricultores independentes cresceu muito. Ampliou-se a adesão e conseqüente

contribuição dos citricultores, o que aumentou a nossa força econômica e política para lutar contra o oligopólio e fortalecer a citricultura. Temos, no entanto, a consciência de que as forças que se opõem a nós são enormes ( porém não invencíveis).

 

EC - A Associtrus está deixando de ser uma associação que se preocupa só com os preços da laranja e começa a atuar em outras áreas, como, por exemplo, na campanha de divulgação para o controle do greening (HLB), o que vem de encontro também aos interesses do citricultor.

 

FV - A Associtrus sempre pensou na cadeia produtiva. Há uma enorme falta de honestidade nas instituições e pessoas que acusam a Associtrus de preocupar-se apenas com o preço da laranja. Desde 2000 temos proposto o que hoje chamam de “agenda positiva”, com a criação de um conselho que trabalharia para assegurar a viabilidade e

competitividade da nossa cadeia produtiva. Esse conselho foi, posteriormente, denominado Consecitrus.

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EC - .Com este câmbio não é só a laranja a grande prejudicada. O que fazer para o citricultor sobreviver diante de tantas doenças, custos dos insumos e mão de obra subindo em Reais e a fruta reduzindo valor devido a sua cotação em Dólar.

 

FV - O cambio valorizado agravou muito a situação do citricultor. Hoje achamos que os contratos deveriam ser em reais e com um índice de reajuste ligado ao aumento de custo de produção. O preço da laranja deveria ser corrigido pelo preço do suco pago pelo consumidor final e não pelo preço do suco concentrado, que tem sido manipulado pelas

esmagadoras.

 

EC – Como você vê as lideranças dentro do agronegócio citricola? Onde estão os nossos senadores, deputados, prefeitos dos municípios citricolas, enfim a força política tão necessária neste momento que precisamos salvar a citricultura desta

terrível doença que é o greening (HLB). Você não acha que está faltando um grande líder para unir as forças para resolver de vez os problemas do agronegócio citricola?

 

FV- Nós achamos que o maior problema ainda está na falta de organização dos citricultores. Tenho contatado políticos e verificado que os citricultores não têm sido atuantes no sentido de pressionar seus prefeitos e vereadores a tomarem posições em defesa da citricultura. As associações comerciais e de outras categorias profissionais de

municípios citrícolas revelam que seus associados não percebem que o preço da laranja não é um problema dos citricultores, mas um problema da comunidade.

Sou pessimista em relação à união das forças pois nem as quatro esmagadoras , apesar de atuarem em conjunto nas manipulações dos preços, não se unem para resolver os demais problemas da nossa cadeia produtiva.

A tentativa de transferir para o citricultor o ônus do controle do “greening” demonstra bem a falta de compromisso da indústria com o futuro da nossa cadeia produtiva.

 

EC - Muitos reclamam da radicalização da Associtrus. Você acha que esta é a única maneira de lutar ? Não corre o risco de ficar queimado no setor ?

 

FV - A agressividade da Associtrus é apenas uma reação à truculência das esmagadoras. Estamos desde 1999 tentando buscar uma solução negociada. Fizemos negociações com a ABECITRUS em 2000 na SRB, tentamos retomar as negociações em 2003 quando reativamos a Associtrus, em 2005 na Câmara Setorial e em 2006 após a

Operação Fanta com a Cutrale, que procurou a Associtrus, mas as negociações foram interrompidas com a intervenção do Sen. Mercadante que propunha uma nova negociação da qual participamos . Abandonamos essas negociações quando percebemos

que o objetivo era interromper as investigações de cartel sem oferecer nada aos citricultores.

Acho que a Associtrus está servindo de exemplo de forma de reação para todo agronegócio e com isto estamos conseguindo apoio de outros setores que enfrentam os mesmos problemas e espelham-se na Associtrus para organizar-se.

 

EC - . Os produtores estão colaborando com a Associtrus? Para uma associação desenvolver as suas atividades precisa de um mínimo de arrecadação. De um modo geral , os produtores não gostam ou não estão habituados a contribuir com nenhuma associação. Como mudar este conceito dentro da citricultura?

 

FV- Como já comentei acima, o apoio dos citricultores tem aumentado e também a arrecadação. Acreditamos que um dos principais problemas do país é a falta de organização da sociedade, situação que permite toda a sorte de abusos e o crescimento da corrupção e violência que vemos no Brasil.

A solução virá no longo prazo, através de uma mudança cultural que precisa ser iniciada já, nas escolas e nas universidades, e de ações que deveriam ser apoiadas pela iniciativa privada e pelo governo, para incentivar o associativismo, a ética e a criação de lideranças

que atuem na base da sociedade. Estamos vencendo a falta de cultura associativista, o medo de retaliação das industrias e a falta de confiança nas lideranças!

 

EC - Como está indo o site da Associtrus?

 

FV- Está indo muito bem, com grande quantidade de acessos, sempre consultado e comentado por toda a cadeia produtiva.

 

EC - . Como você vê o futuro da citricultura, olhando daqui a 10 anos? Vamos perder muitos citricultores ainda? Dizem que temos 9.000 . Eram 23.000 produtores há dez anos. Correto?

 

FV- Na nossa estimativa já seríamos 7000 citricultores. O Fundecitrus tem os números atualizados mas só a industria tem acesso à eles!

Vejo com grande preocupação. As indústrias têm controlado todo o setor com seu poder econômico e político e vemos que setores importantes da nossa cadeia produtiva e da mídia têm uma postura subserviente em relação a elas. Alguns se submetem ao poder

econômico, outros deslumbram-se com afagos aos seus enormes egos. A conseqüência disso é a falta de uma postura crítica aos erros e abusos cometidos e que tem como conseqüência o enfraquecimento do nosso setor.

 

EC- Como a Associtrus vê o controle do greening na citricultura paulista e o que ela poderia fazer para colaborar.

 

FV- Acredito que o controle do “greening” começa pela remuneração adequada para o citricultor pois um produtor endividado e desestimulado, que não vê futuro na citricultura, não vai despender tempo e dinheiro em uma atividade da qual ele está sendo excluído! O

segundo ponto é refundar o Fundecitrus que perdeu a confiança e o respeito dos citricultores devido à falta de transparência e de competência, pois falhou na detecção da CVC, da Morte Súbita e do “greening” e agora está demonstrando incompetência em controlar esta que é a mais temida das doenças da citricultura!

Resolvidos os dois problemas poderemos concentrar os nossos esforços no combate do “greening” e no aumento da competitividade da cadeia produtiva da citricultura.

 

EC-. Você é quem faz para você mesmo. Qual será a solução para esses problemas?

 

FV- Notamos que há, por parte dos brasileiros, a expectativa de que surja um salvador que tenha soluções mágicas e indolores para todos os nossos problemas. A verdade é que a solução desses problemas requer a participação efetiva de todos, e a consciência de que estamos trabalhando para que os nossos filhos e netos possam, no futuro, viver em um Brasil melhor. De outra forma, teremos somente o agravamento dos problemas que estamos vivenciando!

 

FONTE:  http://www.espacocitricola.eng.br/