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A falácia do preço dos alimentos.

08/06/2008
RUBENS RICUPERO


Os pre?os agr?colas e a renda rural ainda n?o se recuperaram plenamente da longa fase de colapso

? FALSO ou exagerado boa parte do que se alardeia sobre a alta do pre?o dos alimentos. Nos ?ltimos dez meses, ? fato que os pre?os subiram em termos nominais. Contudo, quando se comparam esses pre?os com a m?dia hist?rica e se corrige o efeito da infla??o, a realidade ? bem diferente.
Levando em conta o colapso no pre?o das commodities nos anos 1980 e 1990, Jos? Antonio Ocampo, ex-subsecret?rio econ?mico da ONU, hoje na Universidade de Columbia, e Maria ?ngela Parra publicaram artigo provando que a explos?o ? de pre?os minerais, e n?o agr?colas.
Tomaram como base o per?odo 1945-1980, fase de 35 anos de pre?os at? um pouco abaixo da tend?ncia hist?rica. Aplicaram depois, como deflator, o ?ndice da ONU/Banco Mundial conhecido como Unidade de Valor de Manufaturas.
Resultado: os n?meros mostram explos?o nos pre?os do petr?leo e dos metais, sobretudo do cobre. Todos mais que dobraram, em termos reais, em rela??o ? m?dia de refer?ncia. O ?nico ano em que os metais estiveram t?o caros foi 1916, no meio da Primeira Guerra.
J? os pre?os agr?colas apenas se recuperam do abismo em que se tinham precipitado nos anos 80, sem que ningu?m vertesse l?grimas pelas perdas dos agricultores. A maioria dos produtos tropicais na verdade ainda se encontra longe de haver recomposto as perdas.
S? existe um alimento de primeira necessidade com pre?o superior ? m?dia do p?s-guerra. ? o trigo, com ?ndice de 189,7 (o ?ndice 100 corresponde ? fase 1945-1980). Os tr?s outros produtos agr?colas acima de 100 s?o o ?leo de palma (260,1), a banana (185) e a borracha (162,8). O Brasil n?o ? grande exportador de nenhum: na banana, ocupamos posi??o marginal, e na borracha mal atingimos um ter?o das nossas necessidades. Uma segunda categoria ? a dos alimentos que quase recuperaram o n?vel da m?dia passada: o milho (95,7) e o arroz (78).
Na pior classe, a dos pre?os ainda deprimidos, encontramos o cacau (60,9), o ch? (58,7), o caf? (58), o algod?o (43,5) e o a?car (41). O fato de que o a?car nem conseguiu chegar ? metade de sua cota??o hist?rica m?dia p?e por terra o argumento de press?o direta do ?lcool de cana sobre o pre?o de alimentos.
Chega-se ao mesmo resultado pela evolu??o dos termos de interc?mbio, isto ?, a rela??o entre pre?os de exporta?es e de importa?es. O ?ltimo relat?rio da Cepal sobre a economia da Am?rica Latina, divulgado em dezembro de 2007, revela que os ?nicos pa?ses cujos termos de interc?mbio no ano passado melhoraram em 90%-100% acima dos de 2003 foram o Chile, exportador de cobre, e a Venezuela, de petr?leo.
As outras melhoras significativas foram todas de exportadores de min?rios: Bol?via e Peru (40%-60%); Col?mbia e Equador (acima de 25%). Os dois maiores exportadores agr?colas, Argentina e Brasil, tiveram melhora de 10% ou menos.
N?o ? por acaso que Ocampo tenha sido diretor da Cepal e herdeiro do conselho de Ra?l Prebisch: temos de olhar para os relat?rios econ?micos produzidos nos pa?ses ricos com esp?rito cr?tico e a partir da nossa realidade. Quem come da m?o de americanos e europeus v? o que eles querem que vejamos.
A realidade ? outra: os pre?os agr?colas e a renda rural ainda n?o se recuperaram plenamente da longa fase de colapso, os produtos tropicais continuam deprimidos e a real explos?o ? a do petr?leo e dos metais.


RUBENS RICUPERO , 71, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de S?o Paulo, foi secret?rio-geral da Unctad (Confer?ncia das Na?es Unidas sobre Com?rcio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).

Fonte: Folha de S.Paulo


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