31/08/2009Tribuna Impressa 25/8/2009
Prefeito, dirigentes partid?rios, deputados e vereadores repudiam tentativa de assassinato contra sindicalista
Presidente Lula prometeu empenho pessoal para apurar o ocorrido com o sindicalista ?lio Neves
O atentado sofrido no domingo pelo sindicalista ?lio Neves, presidente da Federa??o dos Empregados Assalariados Rurais do Estado de S?o Paulo (Feraesp), foi repudiado ontem por pol?ticos e autoridades de todo o Pa?s, que ressaltaram seu trabalho em favor dos trabalhadores rurais. ?? uma figura important?ssima na luta pelas condi?es dignas de trabalho, pelo fomento da agricultura familiar e pela reforma agr?ria no Brasil?, ressaltou Edinho Silva, presidente do PT Estadual e ex-prefeito de Araraquara.
Edinho tamb?m foi porta-voz do Presidente da Rep?blica, Luiz In?cio Lula da Silva, que, informado sobre o ocorrido, pediu que o presidente do diret?rio estadual do PT comunicasse ? fam?lia de Neves que se empenhar? pessoalmente, junto ao ministro da Justi?a, Tarso Genro, para que o crime seja solucionado o mais r?pido poss?vel, dentro das atribui?es que cabem ao Governo Federal.
?Esse fato cria uma instabilidade muito grande junto aos sindicalistas e enfraquece a democracia. Quero acreditar que essa tentativa de execu??o, em pleno s?culo 21 e na regi?o mais desenvolvida do Brasil, n?o tenha nenhuma liga??o com suas atividades como sindicalista?, declarou Edinho. Segundo ele, o presidente Lula telefonou ontem pelo menos duas vezes para saber not?cias sobre o estado de sa?de do sindicalista e se solidarizar com a fam?lia.
Edinho comemorou o fato de a bala n?o ter atingido nenhuma regi?o vital, o que d? chances muito boas de total recupera??o a Neves, mas refor?ou que a bancada petista na Assembleia Legislativa e demais lideran?as est?o empenhadas na apura??o do crime e na garantia de seguran?a ao sindicalista e ? sua fam?lia. ?O deputado Rui Falc?o conversou com autoridades da Seguran?a do Estado para cobrar medidas de apura??o, assim como o senador Eduardo Suplicy, que entrou em contato com o secret?rio estadual da Justi?a e da Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey?, afirmou.
Prefeitura
O prefeito Marcelo Barbieri (PMDB) enviou ? imprensa nota de rep?dio ? a??o criminosa, ressaltando a forma covarde como o sindicalista foi atacado e solidarizando-se com ?o profissional e sua fam?lia, oferecendo todo o apoio necess?rio?. ?Um atentado como este ? um crime contra a pr?pria democracia e os direitos humanos, e deve ser encarado como um ataque ? liberdade de express?o e de a??o. Confiantes no trabalho s?rio e respons?vel da pol?cia, a administra??o cr? que os respons?veis por essa a??o vil ser?o presos e devidamente julgados pelas leis de nossa sociedade?, diz a nota.
Tamb?m em nota ? imprensa, a Feraesp repudiou o atentado e ressaltou que a entidades e seus 80 sindicatos filiados se sentem ?coletivamente atingidos?. A nota enfatiza, no entanto, que todas as atividades programadas est?o mantidas, pois a Feraesp ?n?o aceita nenhum tipo de retalia??o ou amea?a?. ?A luta por condi?es dignas de trabalho dos assalariados rurais e pela reforma agr?ria ? o sentido de nossa exist?ncia e ela n?o vai parar ou se intimidar. Confiantes em nossas institui?es de seguran?a p?blica, acompanhamos por meio de nossos profissionais o desenrolar das investiga?es para identificar e punir os respons?veis?, diz o documento.
O vereador Carlos Nascimento (PT) tamb?m espera que a investiga??o seja criteriosa, para que os criminosos sejam ?punidos exemplarmente?. ?Se n?o houver solu??o, amanh? a mesma coisa pode acontecer com qualquer um que defende os trabalhadores?, analisou.
Trajet?ria ? marcada por luta pelos trabalhadores rurais
Ex-cortador de cana na fazenda Apeninos, em Rinc?o, ?lio Neves ? presidente da Feraesp desde sua cria??o, em 1989. Sua trajet?ria ? marcada pela luta por melhores condi?es de trabalho dos trabalhadores do campo, como cortadores de cana de a?car e colhedores de laranja. Al?m de fazer den?ncias, em ?mbito nacional e internacional, de mortes de cortadores por exaust?o, trabalho escravo e infantil, Neves tamb?m defende a reforma agr?ria como alternativa ? monocultura da cana, assunto que sempre integrou a pauta de discuss?es da Feraesp.
Ele tamb?m ? diretor da Confedera??o Nacional dos Trabalhadores nas Ind?strias da Alimenta??o (Contac/CUT), presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara desde 1983 e membro da coordena??o da secretaria agr?ria do PT/SP. Na d?cada de 80, foi diretor, por dois mandatos, da Federa??o dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de S?o Paulo (Fetaesp).
Neves tamb?m foi candidato a prefeito de Araraquara em 1992 e candidato a vice-prefeito em 1996, em chapa encabe?ada pelo engenheiro Ant?nio Cl?vis Pinto Coca Ferraz, ent?o filiado ao PSDB.
O sindicalista foi recebido em junho deste ano pelo presidente Luiz In?cio Lula da Silva no Pal?cio do Buriti, em Bras?lia, onde ocorreu o lan?amento do ?Compromisso Nacional para Aperfei?oar as Condi?es de Trabalho na Cana de A?car?, programa de recoloca??o profissional dos trabalhadores do campo, como prepara??o para o fim do corte manual de cana. O programa tem como meta garantir que os mais de 150 mil trabalhadores do setor e suas fam?lias tenham condi?es de ingressar no mercado de trabalho, evitando, nos pr?ximos anos, o desemprego provocado pela mecaniza??o do corte da cana. A preocupa??o se deve ao cumprimento do Protocolo Agroambiental, assinado entre as usinas de a?car e de ?lcool e o Governo do Estado, que acabar? com as queimadas e, consequentemente, com o corte manual da cana em 2014. Inicialmente, cerca de cinco mil trabalhadores devem ser qualificados em seis regi?es do Estado.
Ap?s ser preso, ?lio Neves acusou ?contragolpe pol?tico?
O sindicalista ?lio Neves foi preso no dia 9 de fevereiro de 2007 em Araraquara, sob acusa??o de extra??o e venda ilegal de madeira da Esta??o Experimental de S?o Sim?o, que ? ocupada h? mais de dez anos por cerca de 170 fam?lias ligadas ? Federa??o dos Assalariados Rurais do Estado de S?o Paulo (Feraesp). Apesar da pris?o tempor?ria de cinco dias, por ordem do Minist?rio P?blico, ele foi libertado no mesmo dia, com habeas-corpus. Ao ser libertado, denunciou o que considerava arbitrariedade na pris?o e na apreens?o de documentos na sede da entidade.
? ?poca, Neves atribuiu sua pris?o a uma tentativa pol?tica de intimida??o por ?agentes p?blicos e possivelmente at? de ?rg?os do governo estadual, para tentar se livrar de atos ilegais que praticaram?. Ele dizia que, em S?o Paulo, h? v?rias fazendas plantadas com p?nus e eucalipto pelo Governo do Estado, em parceria com empresas privadas.
?Pleiteamos o assentamento de trabalhadores rurais e em algumas j? conseguimos. A? vem o contragolpe?, disse ao Instituto Observat?rio Social, organiza??o que defende os direitos dos trabalhadores.
Em entrevistas de Neves na ?poca, ele comparou sua pris?o aos atos da ditadura militar. ?Vamos nos defender e mostrar que a Feraesp e seu presidente nunca tiveram qualquer envolvimento em atividades criminosas?, declarou.
Na ?poca, o promotor Tiago Cintra Essado, autor do mandado contra Neves, disse que a necessidade da pris?o tempor?ria era incontest?vel. ?Temos testemunhas que o colocam como a pessoa que ordenava a extra??o ilegal de madeira?, afirmou.
Conflito
Em 2007, Neves foi not?cia novamente durante conflito ocorrido no Assentamento Bela Vista, quando a Pol?cia Militar foi chamada a cumprir ordem de despejo de 12 fam?lias que supostamente n?o haviam cumprido regras para o plantio de cana no local. Segundo as regras, no assentamento, apenas agricultura familiar e planta??o para consumo poderiam ser praticadas, mas as 12 fam?lias foram acusadas de exceder o n?mero de p?s de cana plantados. Ao agir para intermediar o conflito, Neves acabou sendo apontado por ambos os grupos como defensor dos direitos dos opositores, ficando no fogo cruzado entre os interesses das fam?lias envolvidas no caso.
Roberto Schiavon
?lio Neves
