POr: Fl?vio Viegas

No dia 8 de outubro comemora-se, ironicamente, o Dia do Citricultor e Dia Nacional de Combate aos Cart?is.

A revista Agroanalysis publicou, em seu n?mero de Setembro, um caderno especial intitulado ?Citricultura. Em busca de uma agenda positiva.? A revista ? aberta com uma entrevista com o presidente da CitrusBR que, apesar do t?tulo  ?A nova agenda da ind?stria de suco?, repisa e repete o mesmo discurso da velha Abecitrus, taxando de incompetentes os citricultores que v?m sendo expulsos do setor por uma a??o deliberada e calcada na discrimina??o de pre?os entre os que foram eleitos para permanecer no setor e os que est?o sendo expulsos.  Essa discrimina??o de pre?os s? ? poss?vel pela exist?ncia de um acordo entre as empresas compradoras e desmente a afirma??o de que estamos em um mercado de commodities, pois nesse tipo de mercado os pre?os dependem da qualidade da mat?ria-prima e n?o de quem a produziu, como vem ocorrendo no nosso setor.

Outro fato incompreens?vel deste setor ? o descasamento dos pre?os do suco ao consumidor em rela??o ao pre?o da bolsa e o fato de a bolsa estar sendo mantida, no longo prazo, abaixo do custo de produ??o de laranja, tanto de S?o Paulo como da Fl?rida, onde o custo supera US$1,25/lbss e o pre?o do suco tem-se mantido abaixo de US$1/lbss. Quem ? o vendedor? Quem tem custos compat?veis com estes pre?os?

? preciso tamb?m esclarecer quem ? o produtor ?eficiente? que est? estrangulando o produtor ?ineficiente?: imagino que o citricultor ?eficiente? seria a pr?pria ind?stria que plantou nos ?ltimos anos mais de 80 milh?es de ?rvores, ocupando o espa?o antes ocupado pelos pequenos e m?dios produtores. O Cepea pesquisou custos de produtores considerados eficientes por todos os crit?rios t?cnicos conhecidos e a conclus?o foi de que seus custos econ?micos ficaram entre R$13,46 e R$ 17,01, muito acima dos pre?os m?dios pagos pela ind?stria.

A clareza e a transpar?ncia das informa?es continuam no discurso, mas est?o longe da pr?tica do nosso setor. As estimativas de safra, os estoques, os pre?os, que s?o tratados pela mesma ind?stria, na Fl?rida, com total transpar?ncia, aqui s?o mantidos em total sigilo. Nem mesmo as informa?es referentes ao Fundecitrus, sustentado com recursos tomados dos citricultores e com aportes de dinheiro p?blico, s?o tratadas de forma transparente.

Quanto ? riqueza gerada pelo setor, os n?meros a desmentem: o suco exportado a US$ 1 mil n?o cobre sequer o custo de produ??o da mat?ria-prima e, portanto, cada tonelada exportada leva consigo uma fra??o do patrim?nio do citricultor e representa perda de renda e empregos no pa?s e subs?dios e empregos nos mercados consumidores, onde ficam as margens de lucro crescentes. ? a lenda do Robin Hood ?s avessas, tirando do pobre para dar aos ricos.

Em todo o discurso a ind?stria insiste na queda da demanda e n?o fala da queda da oferta e afirma, erroneamente, que a rela??o estoque-demanda ? a maior dos ?ltimos tempos. A queda da demanda, onde ocorreu, deveu-se ao aumento de margens das ind?strias e dos supermercados e ? falta de investimento em marketing e n?o ao aumento de pre?os da mat?ria-prima. Com rela??o ? concorr?ncia de outras bebidas, o interesse das grandes empresas de refrigerantes no mercado de suco demonstra exatamente o contr?rio. Os refrigerantes ? que est?o na berlinda.

O representante da ind?stria apoia-se na teoria capitalista para explicar os baixos pre?os do mercado ?spot?, mas deixa de informar que a maioria dos produtores est?o sem contrato porque a industria negou-se a renov?-los e muitos dos citricultores com contratos foram obrigados a reduzir o valor contratado, portanto o contrato n?o foi cumprido.

O capitalismo apoiado em cart?is, sem concorr?ncia, sem transpar?ncia, que n?o cumpre contratos, baseado no poder de coa??o, nas meias verdades, n?o ? o Capitalismo das teorias, o que confirma que, na pr?tica, a teoria ? outra.