29/11/2005
O recrudescimento de uma antiga diverg?ncia entre ind?strias e produtores poder? levar ao encerramento das atividades do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) em 2006. Ocorre que o fundo ? mantido com recursos de empresas e agricultores, e os dois lados questionam a atual divis?o das contribui?es.

Inaugurado em 1977 para auxiliar a Campanha Nacional de Erradica??o ao Cancro C?trico (Canecc), ent?o liderada pelo Minist?rio da Agricultura, o Fundecitrus, sediado em Araraquara (SP), ? alimentado com colabora?es de R$ 0,09 por caixa de 40,8 quilos de laranja dos produtores e igual valor das ind?strias - e s?o elas que recolhem a parte dos citricultores.

Estes reclamam que t?m a contribui??o automaticamente descontada no momento da entrega da fruta para processamento e que n?o sabem ao certo a quanto chega a contrapartida das ind?strias. Estas, por sua vez, afirmam que muitos grandes citricultores independentes n?o contribuem e que n?o est?o mais dispostas a bancar a diferen?a necess?ria para completar o or?amento do fundo.

A Associa??o Brasileira dos Exportadores de C?tricos (Abecitrus), que re?ne as grandes ind?strias de suco do pa?s, enviou of?cio ? Federa??o da Agricultura do Estado de S?o Paulo (Faesp), que representa mais de 80% do parque citr?cola nacional, informando que s? respeitar? o atual modelo de sustenta??o do Fundecitrus at? mar?o.

"As ind?strias se comprometeram h? um ano a abrir as contas do processamento de laranja e n?o o fizeram. Sem isso, ? dif?cil apurar se elas est?o respeitando a divis?o", afirma Antonio Egidio Crestana, coordenador da mesa diretora de citricultura da Faesp e presidente do Sindicato Rural de Campinas. "A preocupa??o dos produtores com a transpar?ncia das contas ? leg?tima, mas para as ind?strias os dados referentes ao processamento s?o cada vez mais estrat?gicos", diz Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus e do Fundecitrus.

O or?amento do Fundecitrus em 2005, segundo Garcia, ? de R$ 42 milh?es. Ele estima uma produ??o paulista de laranja (origem desses recursos) de 280 milh?es de caixas na safra 2004/05, e diz que pelo menos 70 milh?es de caixas n?o geram recursos para o Fundecitrus. "Ou seja, os recursos para o fundo s?o oriundos de 210 milh?es de caixas, que geram, numa conta simples, R$ 37,8 milh?es divididos entre produtores e ind?strias. S?o as ind?strias que pagam a diferen?a", afirma Garcia.

"As ind?strias divulgam uma safra menor que a real. Estamos falando de pelo menos 330 milh?es de caixas. Nas nossas contas, estamos pagando tr?s quartos do or?amento do Fundecitrus", estima Crestana. Ambos admitem que a quest?o da transpar?ncia das empresas nessa seara ficou mais complicada com a concentra??o, coroada pela venda dos ativos citr?colas da americana Cargill no pa?s para Cutrale e Citrosuco, em 2004.

As partes tamb?m concordam que o Fundecitrus n?o pode viver apenas dos descontos sobre a laranja destinada ? fabrica??o de suco, como acontece hoje, e que os citricultores que produzem laranja de mesa t?m de passar a colaborar. "Os viveiros, igualmente beneficiados pelos trabalhos do Fundecitrus, tamb?m n?o contribuem", nota Jos? Osvaldo Junqueira Franco, presidente do sindicato Rural de Bebedouro e membro da mesa diretora de citricultura da Faesp.

Garcia e Crestana afirmam que as portas para a negocia??o n?o est?o fechadas, e esperam encontrar uma solu??o at? mar?o do ano que vem. Ambos acreditam que o Fundecitrus ? vital para o controle das diversas doen?as que amea?am a citricultura nacional (cancro, amarelinho, morte s?bita, greening etc), e que o fundo transformou-se, com o passar dos anos, em uma refer?ncia internacional. Mas alguns produtores ouvidos pelo Valor questionam a premissa. Para eles, que t?m seus pr?prios trabalhos de inspe??o de pomares e preven??o contra doen?as, o Fundecitrus cumpriu seu papel e pode parar.

(Cr?dito: Fernando Lopes ? Valor Econ?mico)