07/06/2006
Produtores de laranja, insatisfeitos com a rentabilidade da citricultura, est?o migrando para a cana-de-a?car, no interior de S?o Paulo. Al?m da cultura oferecer uma remunera??o muito superior ? da citricultura, os agricultores n?o precisam investir recursos no processo de convers?o de pomares em canaviais. Isso porque a maior parte das usinas se responsabiliza por este custo. Atra?do pelos bons pre?os, o ex-citricultor da Barretos (SP), Marcos Schranck, decidiu mudar para a cana depois de enfrentar problemas judiciais com uma processadora de suco de laranja. ?Os pre?os n?o cobriam os custos de produ??o e entramos em um c?rculo vicioso. A renda caiu, diminu?ram os tratos culturais e a produtividade despencou, at? inviabilizar totalmente a produ??o?, afirma. H? duas safra, Schranck iniciou a migra??o aos poucos. Procurou uma usina da regi?o e firmou um contrato de fornecimento de cana. ?A usina providenciou tudo; da remo??o das ?rvores, at? a colheita. As despesas iniciais foram descontadas nos primeiros vencimentos. Depois disso, fiquei por conta pr?pria?, afirma. Hoje, o produtor cultiva cana em toda sua propriedade de 400 mil hectares. A remunera??o, segundo ele, chega a R$ 11,7 mil por hectare. ?Mas dividimos os riscos com a ind?stria?, diz. Igualmente preocupado com o custo de produ??o da laranja ? hoje em R$ 12 a caixa, com remunera??o a R$ 7 a caixa ?, o produtor Luciano Nina, de Tabatinga (SP), j? pensa e migrar para a cana-de-a?car. ?A id?ia ? come?ar com 20% da propriedade, onde est?o as ?rvores velhas, para iniciar o cultivo de cana?, afirma. Nina j? procurou a Usina Santa F? (em Nova Europa/SP) e negocia um contrato de arrendamento. A usina se compromete a pagar cerca de R$ 1,4 mil por alqueire de cana plantado. ?Toda a produ??o ficar? a cargo da usina e o dinheiro cai na minha conta?, diz. Propor??o Segundo o Centro de Estudos e Pesquisas Avan?adas em Economia Aplicada (Cepea), da USP, a cana-de-a?car vem avan?ando sobre ?reas citr?colas em S?o Paulo. De acordo com a pesquisadora, Margarete Boteon, h? cinco anos, havia na regi?o norte do estado, tradicional produtora de cana, cerca de um hectare de laranja para cada 1,9 hectare de canavial. Atualmente, a propor??o ? de um para 3,1 hectare ? aumento de 63% para a cana. Na regi?o central e sudeste do estado, a propor??o para a cana tamb?m subiu 7% e 4%, respectivamente. A exce??o ? na regi?o sul, nova fronteira para a laranja, onde a cultura cresceu 11% sobre a ?rea de cana. A remunera??o da cana tamb?m tem acompanhado o avan?o da ?rea cultivada, segundo Cepea. Na safra 2002/2003, o valor de tr?s caixas de laranja equivalia a uma tonelada de cana. Hoje, seis caixas do fruto igualam o valor de uma tonelada de cana. Apesar de reconhecer o avan?o da cana sobre o parque citr?cola, a ind?stria n?o teme um poss?vel desabastecimento. ?O avan?o da cana se restringe a ?reas onde a citricultura est? muito debilitada, principalmente pelas doen?as. Nas novas fronteiras da citricultura, principalmente no sul de S?o Paulo a realidade ? bem diferente?, afirma o presidente da Associa??o Brasileira dos Exportadores de C?tricos (Abecitrus), Ademerval Garcia. O executivo lembra que, a ?rea do parque citr?cola diminuiu de 800 mil hectares, h? 10 anos, para 630 mil hectares hoje. Mas apesar disso, a produtividade se manteve em torno de 300 milh?es de caixas. ?Houve um processo de adensamento de pomares, principalmente com a chegada da irriga??o?, diz. Para o presidente da Associa??o Brasileira de Citricultores (Associtrus), Fl?vio Viegas, o avan?o da cana sobre pomares de citros pode afetar a economia dos munic?pios do interior de S?o Paulo. ?Ao contr?rio da cana-de-a?car, a citricultura ? uma atividade empregadora e que fixa a renda no local onde est?o as propriedades?, afirma. Viegas tamb?m vem investindo na cana, que j? ocupa 80% de uma ?rea de 100 alqueires, em Columbia (SP), destinada originalmente ? citricultura. (Cr?dito: Daniel Medeiros - DCI)