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A Miopia do debate sobre a inflação de alimentos.

24/06/2008

 

 

Nas ultimas semanas, presenciamos v?rias discuss?es mundiais acerca da explos?o dos pre?os dos alimentos, trazendo infla??o e fome. ? uma preocupa??o real na Europa (3,6%), China (8,3%), EUA (4,0%), R?ssia (12,7%) e em outros mercados. Diversos estudos t?m apontado apenas os biocombust?veis (a) como causa da alta nos pre?os, ignorando outros fatores, velhos conhecidos, como o crescimento da popula??o mundial (b), enquanto outros s?o fen?menos recentes, como o desenvolvimento e a distribui??o de renda (c) em pa?ses populosos; programas governamentais (d) de assist?ncia e acesso a alimentos; o impacto da urbaniza??o (e) e forma??o de mega-cidades, aumentando o consumo e mudando h?bitos; os pre?os do petr?leo (f), cujo barril subiu de US$ 35 para US$ 125 em 5 anos (aumento no custo de produ??o e dos transportes); a desvaloriza??o do d?lar (g); escassez na produ??o devido a fatores clim?ticos e doen?as (h) e movimentos de fundos de investimentos nas commodities (i).

Qual ? a porcentagem de responsabilidade de cada um desses 9 fatores, que juntos trouxeram o problema da infla??o? Se s?o apenas os biocombust?veis, por que pre?os de produtos n?o relacionados t?m subido intensamente nos ?ltimos anos (arroz, feij?o, suco de laranja, por exemplo)?

Investimentos globais sustent?veis em biocombust?veis t?m sido severamente prejudicados por opini?es equivocadas. Um economista bem informado declarou que ?mesmo pol?ticas para biocombust?veis aparentemente positivas, como a fabrica??o brasileira de etanol de cana-dea?car, aceleram o aquecimento global ao promover desmatamento?, ignorando nossa geografia. Representante da ONU classificou biocombust?veis como ?crime contra a

humanidade? e o Diretor Geral do FMI classificou de ?problema moral?. Pesquisas s?rias atestando experi?ncias positivas em sustentabilidade dos biocombust?veis publicadas devem ser lidas e estudadas antes que se emitam opini?es. Peri?dicos internacionais publicam artigos negativos com metodologias obscuras e generalizam os resultados de forma perigosa.

Biocombust?veis n?o podem ser colocados na mesma cesta, h? grandes diferen?as entre as

diversas mat?rias primas. A sociedade mundial deve se perguntar quem est? patrocinando

esses ?estudos? e por quais interesses. Um bom ponto de partida seria analisar quem perde

margens com as mudan?as. Como contribui??o para o debate sobre infla??o, uma agenda

global de 10 pontos seria um caminho a ser percorrido, trazendo resultados ? produ??o

sustent?vel de alimentos e biocombust?veis.

 

Expandir horizontalmente a produ??o (1) em novas ?reas, com sustentabilidade ambiental. A

Am?rica do Sul usa apenas 25% de sua capacidade, e este crescimento poderia ser a

reden??o da ?frica. No Brasil, reconhecidas institui?es atestam mais de 120 milh?es de

hectares a serem usados, em sua maioria tomando terras degradadas de pastagem e sem

tocar em ecossistemas fr?geis.

 

H? tamb?m a expans?o vertical (2) em terras que poderiam produzir mais caso fossem feitos investimentos em tecnologia. A quantidade de milho que um fazendeiro norte-americano pode produzir ? duas ou mesmo tr?s vezes maior que outros pa?ses.

 

Redu??o das tarifas de importa??o, outras barreiras importantes e protecionismo (3). Os

pre?os de certos alimentos s?o artificialmente inflacionados. A carne bovina na Uni?o Europ?ia chega a custar 4 ou 5 vezes mais que a mesm?ssima qualidade encontrada nas lojas do mesmo varejista europeu no Brasil ou na Argentina. Outras taxa?es e impostos internos sobre g?neros aliment?cios poderiam reduzidos aliviando os pre?os. O novo patamar alcan?ado pelos pre?os agr?colas pode permitir que a agriculturas locais se tornem competitivas.

Investimentos em log?stica (4) para que custos sejam reduzidos. Parte dos pa?ses produtores apresenta log?stica extremamente deficit?ria, como nosso caso. Os governos deveriam aumentar j? investimentos nessa ?rea e promover as mudan?as institucionais necess?rias para facilitar a privatiza??o (para ontem) ou PPP?s de portos, estradas, aeroportos, ferrovias e outros equipamentos para distribui??o de alimentos. O grau de investimento trar? muitas oportunidades de investimentos para privatiza??o, desde que o Governo remova suas travas ideol?gicas e administrativas.

Redu??o dos custos de transa??o (5), via reformas institucionais, uma vez que cadeias

internacionais de alimentos s?o mal coordenadas e apresentam redund?ncias, mal uso deativos, corrup??o, oportunismo e inefici?ncias que s?o respons?veis por grande parte das

perdas, aumento dos custos e presen?a de agentes que n?o adicionam valor ? cadeia de

alimentos.

 Uso das melhores fontes de biocombust?veis (6), de maneira totalmente sustent?vel.

O Brasil produz etanol usando apenas 1% das terras ar?veis e suprindo 50% do consumo de

combust?vel, sem causar impacto nos alimentos. S?o Paulo mostra ser poss?vel avan?ar na

produ??o de alimentos e biocombust?veis. Produzir etanol a partir de milho n?o se mostra a

melhor solu??o.

Investimentos em novas gera?es de fertilizantes (7) de fontes alternativas, plantas que absorvam maiores quantidades de energia do sol e reciclar subprodutos como fonte de fertilizantes para mitigar os enormes riscos e custos destes no futuro.

Pesquisa e investimentos em inova??o (8) principalmente no desenvolvimento gen?tico, novas sementes, para que solu?es sejam levadas para a produ??o com sustentabilidade. Necessitamos de mais contratos de fornecimento sustent?veis para produtores (9). Est?mulos nos pre?os s?o o melhor incentivo para o crescimento da produ??o com tecnologia e inclus?o. A concentra??o de agroind?strias e varejo ret?m margens que poderiam ser melhor distribu?das aos produtores rurais, estimulando o desenvolvimento.

Finalmente, trabalhar a mudan?a do comportamento de consumo de alimentos e combust?veis (10). Alimentos s?o, por vezes, excessivamente consumidos em muitos pa?ses, levando ? obesidade, uma grande preocupa??o da sa?de. Tamb?m o nvestimento e o uso de transportes coletivos pela sociedade ? fundamental e suas pol?ticas de conscientiza??o.

Minha contribui??o neste artigo foi organizar 9 efeitos causadores da infla??o e propor 10

sugest?es para este importante debate. Passamos por um momento cr?tico, um ponto de ?inflex?o?. N?s podemos retroceder, tentando aumentar o protecionismo, fomentar a autosufici?ncia de regi?es ineficientes, banir os biocombust?veis, criar taxas de exporta?es, ou mesmo amea?ar transformar companhias privadas em empresas p?blicas. Ou, ent?o, a sociedade pode caminhar para frente; e eu realmente espero que os interesses globais nos permitam seguir uma agenda positiva, no trilho certo para a sustentabilidade, para o interesses escusos e pensamentos desenvolvimento dos paises mais pobres, vencendo medievais.

 

Opini?o ? VALOR  7/5/08

Marcos Fava Neves, Prof. de Estrat?gia da FEA-USP de Ribeir?o Preto.


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