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CITRICULTURA - O LADO AZEDO DA LARANJA

18/11/2008

Por F?bio Moitinho

 

 

De um lado, uma produ??o crescente, novos investidores a aparecendo no mercado. Do outro, pequenos e m?dios produtores endividados, brigando por melhor remunera??o. Este ? o cen?rio de controv?rsia que se encontra a citricultura do Pa?s, que est? entre as tr?s atividades econ?micas de maior valor de produ??o para a economia paulista. T?o complexa quanto a crise financeira americana, tamb?m pode ser considerada a citricultura no Brasil. Em termos de estimativas de safra, a produ??o de laranja, em toneladas, superou em 0,57% a produ??o do ano passado, considerando os meses de agosto: em 2007 foram 18.500.478 toneladas contra 18.605.039 deste ano, de acordo com o Levantamento Sistem?tico da Produ??o Agr?cola (LSPA), desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat?stica (IBGE).

 

? no estado de S?o Paulo onde se concentra a maior parte da produ??o de laranja do Pa?s. Segundo dados de 2007 da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de S?o Paulo (SAA), a fruta ficou em terceiro no ranking de valor da produ??o, com um rendimento de R$ 2,670 bilh?es (24,59% superior ? safra de 2006) ? esse dado refere-se somente ? laranja para a ind?stria. A laranja para a mesa estava em quarto lugar, com um valor de produ??o de R$ 1,572 bilh?o (16,01% a mais em rela??o ao ano de 2006). ?Se somarmos a laranja para ind?stria e a de mesa, conclu?mos que a fruta est? em segundo lugar, perdendo apenas para a cana?, analisa o economista e pesquisador do Centro APTA Citros ?Sylvio Moreira? do Instituto Agron?mico de Campinas (IAC), Arthur Antonio Ghilardi.

Se em termo de produ??o a citricultura vai bem, ? nas rela?es com o mercado que ela apresenta a pior face. Segundo Ghilardi, todo um complexo existe no caso dos citros, como a oferta j? existente em estoques mundiais, o consumo baixo no mercado americano, a produ??o daquele pa?s em recupera??o, entre outros fatores ? e isso tem abaixado os pre?os.

Como cerca de 80% da produ??o de laranja vai para a ind?stria, e os 40% restantes atendem o mercado interno de fruta fresca, a citricultura fica na depend?ncia de como fica a oferta da fruta no Pa?s. Quanto maior a produ??o, menor s?o os pre?os pagos ao produtor.

 

O alto custo de produ??o, o endividamento (em grande parte de pequenos e m?dios produtores) aliado ?s manifesta?es de pragas e doen?as que t?m crescido nos ?ltimos tempos, principalmente com rela??o ao greening, t?m tirado cada vez mais produtores da citricultura. Varia??o de pre?os

6 a caixa em algumas regi?es do estado de S?o Paulo. ?Existem dois referenciais de pre?os no mercado internacional: o pre?o da bolsa e o pre?o nas g?ndolas nos supermercados?, explica o presidente da Associa??o Brasileira de Citricultores (Associtrus), Fl?vio Viegas. ?A bolsa de suco ? muito pequena e sujeita a manipula??o pelas empresas brasileiras que concentram uma alt?ssima porcentagem do suco comercializado e do mercado de suco ao consumidor?.

Outro problema, destacado pelo presidente da Associtros, est? em fun??o da qualidade da informa??o de estimativas de safra. Segundo ele, ? a partir desse n?mero que se estabelece o pre?o da caixa de laranja. ?Um aumento de 60 milh?es de caixas na oferta global, afeta em US$ 1.000 no pre?o do suco de laranja na bolsa de Nova Iorque?, alerta Viegas. ?O Instituto de Economia Agr?cola (IEA) trabalha com um parque de ?rvores produtivas de 180 milh?es, enquanto a ind?stria, que tem informa?es melhores, indica um parque de 155 milh?es de ?rvores. A diferen?a de 25 milh?es de ?rvores produz um aumento de cerca de 50 milh?es de caixas?. E nessa rela??o, a produ??o excedente faz com que os pre?os tendem a ficar l? em baixo.

Em n?meros, a citricultura no Pa?s pode ser estimada em 30 mil produtores, de acordo com Viegas. No estado de S?o Paulo, s?o cerca de sete a oito mil, dos quais a grande maioria s?o pequenos e m?dios. Esse n?mero chegou a ser 30 mil na d?cada de 1990, mas com as constantes crises, muitos deixaram a atividade. Mesmo com a redu??o do n?mero de produtores, a produtividade foi compensada pela intensifica??o do aumento de ?rea de cultivo das pr?prias ind?strias, segundo o economista Arthur Antonio Ghilardi.

A sa?da da crise

C?lculos recentes da Associtros, baseados na safra 2008/2009, realizados por interm?dio de uma consultoria, indicam que o custo de uma produ??o equivalente a 537 caixas por hectare chega a R$ 16,15. Pela conta, o produtor tem um preju?zo de R$ 6,82 por caixa ? considerando a m?dia de pre?o pago de setembro (R$ 9,33). A produ??o de 537 caixas amargariam R$ 3.662,34 no bolso do citricultor.

 

Arthur Ghilardi, o ponto fundamental para o produtor ficar de fora dessa crise ou tentar amenizar os riscos e as perdas, ? ter um controle rigoroso com a gest?o da propriedade. ?? importante estar atento ao custo de produ??o, acompanhar melhor como est? o andamento da produtividade. Na hora de comprar os insumos, fazer uma boa compra em termos de pre?o e quantidade adequada e estudar bem a situa??o do mercado?, aconselha.

A busca de diversifica??o na produ??o pode ser uma sa?da. Al?m dos citros, uma outra atividade pode ser estudada para aliviar esses momentos de crise. No entanto, o pesquisador alerta que a busca por diversifica??o na produ??o ? o ideal, mas tem de se atentar tamb?m qual atividade mais se adequaria ? propriedade, para n?o correr a mais preju?zos. Segundo Ghilardi, ? preciso se pensar numa atividade que sirva para regi?o, em termos de clima e mercado.

? espera de bons ventos

em Bras?lia, Rio de Janeiro, entre outros.

?Hoje voc? tem produtores recebendo R$ 15 e produtores recebendo R$ 5 ou R$ 6, quer dizer tem uma gama de situa?es acontecendo dentro do mercado de citricultura?, avalia Sandoval. ?Isso varia de ano para ano, quando existiam muitos contratos m?ltiplos, de v?rios anos. Hoje eu tenho me concentrado em fazer a negocia??o da produ??o ano a ano. Eu acho que estou numa situa??o melhor do que no ano passado?, analisa.

Produtor x ind?stria

em nota a LDC. ?A agricultura n?o ? diferente, e especificamente na citricultura, as respostas a ganhos tecnol?gicos s?o muito relevantes. Os produtores precisam se atualizar, investir em tecnologia e novas t?cnicas agr?colas, combater o greening e gerenciar bem a renova??o de pomares. A meta ? manter alta produtividade e custos competitivos, compat?veis com o mercado global?. Em rela??o aos pre?os, a empresa aponta a pr?pria quest?o de mercado ? oferta e procura. ?O suco de laranja ? uma commodity, com pre?o cotado na Bolsa de Nova Iorque. Portanto, o pre?o pago por caixa de laranja ? a mat?ria-prima do suco ? segue a cl?ssica ?lei da oferta e da procura??, declara a LDC. ?O importante ? salientar que, quando o pre?o internacional do suco de laranja ? favor?vel, ind?stria, citricultores de todos os portes e demais componentes da cadeia produtiva ganham com isso. Quando o pre?o internacional do suco de laranja cai, todos sofrem?.

Em busca de um di?logo

11 a caixa), ? um pre?o que, para um citricultor, esse citricultor com muitos problemas, nesse momento n?o resolve?. De acordo com o secret?rio, os produtores alegavam uma varia??o de valor pago pela ind?stria, que chegou a R$ 15 pela caixa ? fruta spot, ou seja na porta da ind?stria, sem contrato. A ind?stria por sua vez, segundo Sampaio, diz que pagou realmente esse pre?o a um e outro, mas que o pre?o m?dio era abaixo de R$ 10. ?Ent?o essa dificuldade de remunera??o ? o ?mago de tudo para que a gente possa encontrar essa sa?da?.

Endividamento

Para se ter uma id?ia da progress?o do processo de endividamento da citricultura, a Associtros apresentou um estudo, tamb?m realizado via consultoria, no qual vai acompanhando a queda da rentabilidade em 18 anos da produ??o. O resultado: um preju?zo da ordem de R$ 9.863,50 ? considerando uma produtividade de 750 caixas por hectare e uma m?dia de pre?o de R$ 11,30 por caixa.

O estudo aponta como o setor est? mal. E na busca de uma solu??o o governo criou um grupo de trabalho para analisar melhor essa crise e poder encontrar alguma sa?da aos produtores. ?A gente tem pre?os hist?ricos em d?lar elevad?ssimos, se fala hoje em uma caixa de laranja de quatro d?lares, quatro d?lares e meio, mas que, com o c?mbio vigente nesse momento, n?o remunera o produtor?, analisa o secret?rio estadual de Agricultura. ?O produtor tem um custo de produ??o em reais que ? muito mais elevado do que isso. Ent?o gerou uma dificuldade, e al?m disso, esses custos est?o crescendo a cada ano porque novas doen?as aparecem?.

Procurado pelo deputado estadual David Zaia (PPS), ent?o coordenador da Frente Parlamentar da Citricultura na Assembl?ia paulista, Sampaio prop?s a cria??o desse grupo, coordenado pelo Instituto de Economia Agr?cola (IEA), para, primeiro, saber de quanto se trata essa d?vida ? j? que ainda n?o h? esse n?mero. Depois saber com quem ? para poder renegociar a d?vida.

?O Estado est? muito preocupado com a situa??o da citricultura. A citricultura ? muito importante para o Brasil, mais fundamentalmente para o estado de S?o Paulo, e a gente n?o quer, de maneira nenhuma, que esse citricultor, que hoje passa por uma dificuldade, seja exclu?do da atividade?, declara Sampaio. ?O que a gente precisa fazer ? adotar mecanismos de gest?o da propriedade, uma gest?o sanit?ria de qualidade, e isso a? ? obriga??o do citricultor, e o estado apoiando e induzindo para que ele fa?a boas pr?ticas de produ??o?.

A favor daqueles por tr?s de qualquer resultado: o trabalhador

Em termos de exporta??o de suco de laranja, houve uma queda de 14,88%, considerando o montante acumulado entre os meses de janeiro a agosto em 2007 e 2008, de acordo com o relat?rio de exporta??o desenvolvido pelo Minist?rio da Agricultura, Pecu?ria e Abastecimento (MAPA). No entanto, ainda segundo os dados do MAPA, referente ao mesmo per?odo, o suco de laranja saltou de 2,7%, em 2007, para 4,1% este ano em termos de participa??o do montante total exportado pelo Pa?s.

Para continuar esse crescimento, ou mesmo mostrar melhor desempenho na produ??o, o incentivo para o fortalecimento da citricultura ? o necess?rio. E isso n?o quer dizer apenas n?meros a mais na balan?a comercial brasileira. Quer dizer tamb?m, melhores perspectivas para o homem do campo que se habituou a trabalhar com o citros, e que ? o respons?vel pelos ?ndices de produtividade. ?A citricultura representa, me parece, 400 mil empregos diretos?, diz Mauro Sandoval, produtor de citros. ?Hoje, o que a gente v? s?o muitos agricultores pequenos saindo da atividade e indo para a cidade, e o movimento do governo preocupado em assentar outras fam?lias [onde antes havia citricultores]. (...) Eu vejo um contra-senso nisso. ? mais ?til para a sociedade brasileira manter essa pessoa [o citricultor] l? dentro, que s?o bons produtores. Esse sujeito, estimulado, sabendo que dali vai conseguir tirar o sustento da fam?lia dele, pagar os estudos do filho, esse sujeito, bem remunerado, vai cuidar demais desse pomar. Ele vai conseguir, por exemplo, detectar o greening na primeira manifesta??o, e vai tirar essas ?rvores e por uma outra sadia no lugar, e vai pulverizar no momento certo. Para isso, ele tem de sentir que daquilo l? ? a chance na vida de levar prosperidade para a fam?lia dele. Da? sim a gente vai conseguir ter sucesso na citricultura?.

 

 

 

 


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