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Como fazer carne bovina com um cavalo?

15/02/2013

14 de fevereiro de 2013 O Estado de S.Paulo

Análise: Gilles Lapouge

No início de janeiro foi descoberto que hambúrgueres do Burger King continham vestígios de carne de cavalo. Mas no Reino Unido ninguém come cavalo. Jamais. Seria um sacrilégio, um "canibalismo", porque o cavalo é a "mais nobre conquista do homem".

Foi este o início de um enorme escândalo sanitário que sacode a Europa. Em alguns dias o "cavalo/bovino" passou a ser encontrado em todos os açougues, de Oslo e Barcelona. Mas o mais extraordinário têm sido suas infernais complicações. Simplificando a história, eis como o cavalo assumiu o lugar da carne de vaca nas mesas europeias.

Tudo começa com dois abatedouros romenos. Eles matam os cavalos porque na Romênia há muitos cavalos e pouco gado, e a carne de cavalo custa duas vezes menos do que a bovina. E os carregamentos do produto partiram para uma aventura.

E perdemos a sua pista. A carne é revendida para intermediários holandeses, depois para cipriotas e acaba sendo encontrada na França, numa fábrica de alimentos congelados, a Comigel, uma poderosa empresa.

Mas o nome Comigel não é mencionado nos supermercados porque a empresa é uma atacadista que revende seus produtos congelados para uma dezena de outras marcas nos quatro cantos da Europa.

Imagine a dificuldade para seguir o périplo dessa carne que viajou para Chipre, Holanda, até fazer uma "parada" na França e se transformar em lasanhas, bifes ou salsichas, antes de ser encaminhado para outras fábricas para ser colocado em embalagens com a marca Findus, Picard, Monoprix, etc. Em que momento ela foi rotulada como "carne bovina"? Aí está o mistério. E nenhuma resposta.

Que comprador poderia imaginar um périplo como esse quando escolheu seu produto? Mesmo os inspetores sanitários que pululam nos circuitos comerciais europeus são incapazes de reconstituir o labirinto no fundo do qual o cavalo se tornou bovino.

Se examinarmos o caso na outra ponta, vamos nos deparar com um outro labirinto. Tomemos como exemplo uma das marcas que comercializaram a carne de cavalo, Findus, empresa bastante conhecida, que existe há 60 anos. Uma empresa sueca, portanto de honestidade garantida.

Mas, quando começamos a pesquisar, tomamos conhecimento de que a Findus não é mais sueca. Foi adquirida pela Nestlé suíça, que, por seu lado, a revendeu para um fundo de investimento americano que cedeu a companhia para um outro fundo de investimento, desta vez inglês: o "Lion Capital". E este fundo acabou de vender dois terços da sua participação para quatro credores, entre eles o banco Société Générale e o JP Morgan.

Tudo isso é burlesco. E desmoralizador. Esses périplos violam toda a lógica que leva a população a consumir, apesar dos controles infinitos, estúpidos e meticulosos, alimentos fraudulentos.

E há um outro inconveniente, como ressalta o excelente editorialista do Figaro, Alain-Gerard Slama: "Esses imbróglios servirão de argumento para o exército de contestatários e denunciadores, ou seja, para os inimigos, agora mais convencidos do que nunca, do capitalismo, da Europa e da globalização".

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


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